quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Quase, quase!

2015 finda-se.
E parece impossível passar ao lado da habitual onda de memórias e desejos e projetos futuros.
O meu ano foi uma montanha russa. Enorme. E o medo que eu tenho de montanhas russas...

O lado negativo, e passando rapidamente ao positivo, foram as perdas humanas. Somos menos à mesa. Somos menos nas fotografias. Somos menos nas conversas.

As coisas positivas, não fosse eu sagitário e, segundo os astros, sofrer de otimismo, foram mais que muitas.

Os dois reencontros com o meu irmão.
O regresso ao Brasil, esse país que me sabe sempre a casa.
O desafio de começar um projeto de vida a dois.
As vitórias saudáveis da minha mãe.
A força imparável do meu pai.
As tecnologias que permitem, cada vez mais, estarmos em constante contacto com o outro lado do oceano.
A aventura de voltar "à escola".
A vontade de mudar e arriscar.
E tanto, tanto mais...

Para 2016 decidi não deixar para amanhã o que posso fazer hoje.
Por isso, 8 quilos depois, e numa segunda tentativa, já esta semana começou o maior desafio para 2016 - tornar-me mais saudável e mais ativa. (É provável que levem com fotos e post sobre ginásio, exercício, etc.)...

Aqui, um cheirinho muito pequenino do que foi este ano:


(E também, em 2016, começar a registar mais momentos e a organizar melhor as fotos...!!!)

Aquilo que desejo a todos os meus queridos é que este seja um ano que valha a pena! Mas... nós temos de fazer com que ele valha a pena. 
E que não tenham medo de deitar fora tudo o que não importa.

Feliz 2016! 
Até para o ano.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

o dia dele!

Este ano o Carnaval calhou quase com o aniversário da tua partida. Há três anos que embalaste a tua vida em duas malas e atravessaste o oceano sozinho.
Nessa noite, depois de passar o dia com um camadão de nervos, os pais foram ao café. Na TV Brasil, canal que eu desconhecia completamente, via, pela primeira vez, o gostosinho do Diogo Nogueira no seu Samba na Gamboa. Melhor do que isso só mesmo o convidado ser o Caetano. Vidrei e, pela primeira vez, ouvi a música que me transporta até ti.


Graças a ti fiz a viagem da minha vida. Três meses aí, a viajar, a viver. A loucura das condições de vida aí, a preocupação em garantir o teu bem estar e o abandono dos pais. 


Falhou-nos o Corcovado e a Pedra da Gávea. Mas na próxima compensas.

Tinha isto escrito aqui desde dia 12 de fevereiro.

Hoje é o teu dia. Tanta coisa mudou entretanto. Casaste. Vieste cá. Estivemos novamente juntos desse lado. E agora são alguns meses de espera para a tua volta.

A relação que tenho hoje contigo foi aquela que sempre desejei. E veio em tempo certo, acredito eu.

Mas também desejei todas as vezes que jogávamos à porrada no quarto dos pais.

E as vezes em que nem era preciso falar para entrarmos numa de gozo de quem estivesse ao pé de nós.

Só desejo que sejas o mais feliz do mundo.

Parabéns, mano!





segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Posso ir lá de avião

Há dias, só porque sim, que dói muito.
E nunca pensei que fosse ser assim.

No dia em que perdi o Armando foi estranho. Ainda por cima o meu pai fazia 50 anos.
No dia a seguir, só me lembro de abraçar a Piôa e apetecer-me chorar. Mas passou. Hoje falo muito nele e nas memórias que tenho das nossas brincadeiras, dos jantares e dos vestidos que me oferecia. Era o “meu” macacão e nunca mais ninguém ocupará o seu lugar.

Anos mais tarde veio a minha bisavó. A avó Yé-yé. Foi tudo tão diferente. Só desejava que o seu sofrimento e o nosso acabasse. Que ela encontrasse a paz que sempre a ouvi pedir. A verdade é que ela gostava muito de viver, mas bem. Não no ponto a que chegou. Foram 103 anos. Mais do que uma vida cheia.
Dela guardo os poucos cabelos brancos aos 103 anos. A sua casinha tão pequenina. As suas histórias e anedotas. Manias. As conversas e o seu feitio afiado. Tenho saudades da gargalhada que ela dava quando contava a história do Noé e das suas finas e compridas mãos. Sempre que volto a casa da minha avó olho para o lugar dela é vejo-a com o prato cheio de tudo o que há na mesa. O pão ao pé do prato.

Entretanto perdi os meus avós paternos. Confesso que a ligação não era muita mas nunca desejei ver o meu pai sofrer como sofreu. Nem os meus tios. Caramba, quantas vezes questionei o porquê de haver vidas tão tramadas e fins de vida ainda piores. Mas, na crença e na paz deles, encontraram o seu caminho e acredito que se mantenham juntos, estejam onde estiverem. E que continuem a deitar o olho aos tantos e tão queridos filhos.

Agora foi o meu avô. O Alberto. Ou o Lambina. Ou o Beto. Ou o “vô”.
Aquele que eu tratava por tu e com quem podia passar horas e dias a falar e passear. Aquele com quem partilhei as férias, as festas da escola, todos os domingos e muitos fins de tarde. O avô que durante anos comprou Coca-Cola e Sumol de Ananás para o almoço de domingo. E que, já nos 70, mudou. Acreditou que era possível a mudança e fê-la por si, pela minha avó e pela família. Transformou-se num exemplo. Um pai exemplar como não o tinha sido, um avô-herói, um marido tão presente e cooperante.
O meu avô gostava tanto de viver. Assim como a mãe dele.
Conhecia meio mundo e o outro meio conhecia-o.
Tenho tantas saudades. Tenho saudades de o encontrar no Continente de boina e com as mãos atrás das costas. Tenho saudades do seu dedo do meio cortado desde que me lembro e de o ouvir contar as suas histórias mirabolantes.
Tenho saudades dos dentes novos, que pôs há 1 ou 2 anos e do ver com a minha avó, em constante embirração mas em constante amor.

Nunca pensei que doesse tanto.

Às vezes vejo-o na rua. Tantas e tantas vezes reinventado em outros avôs ou maridos que passeiam, que conversam, com quem me vou cruzando.

Só me pacifica o facto de saber que ele estava sempre de bem com a vida, e por isso, foi daqui bem connosco. Descansada e com um sorriso na cara, como sempre.

Tenho pena que os meus filhos não o possam conhecer.

Há dias o meu irmão dizia-me que o tempo não ajudava nada, que isso era treta.
Espero que o tempo alivie a dor e me permita matar todas as saudades com as melhores recordações que guardo dele.



Avô, onde estiveres, bronzeia a perninha.










quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O dia em que pensei que a podia perder.

No dia em que ela ia entrar para o bloco operatório, às 7h da manhã, estava em pânico. “Sim, mãe, vai correr tudo bem! Vamos estar à tua espera no recobro quando acordares da anestesia.”
Este foi o momento, primeiro e único, que o medo se apoderou de tal forma que pensei que a podia perder.
O meu irmão do outro lado do oceano há quinze dias, sozinho, numa casa com 10 marmanjos e caído numa das cidades mais perigosas do mundo.
O meu pai, o meu doce e sensível pai, a mostrar ao máximo a sua força. Também devia estar com muito medo.
Fui para as aulas, de minuto em minuto olhava para o telemóvel na esperança de uma chamada a dizer “a operação acabou, correu tudo bem!”.
Demorou horas. Se calhar nem foram assim tantas as horas, mas parecia um dia inteiro.
O meu pai liga-me, com a voz embargada “filha, é para te dizer que correu tudo bem com a mãe (e o meu coração de passarinho descansou) mas o problema dela não era no útero, depois conto-te (e o meu coração descansou tão depressa como voltou a disparar até à hora em que consegui ir vê-la)”.
Quando cheguei o meu pai chorava de alívio. Entrei, a minha mãe estava irreconhecível, entubada até à testa e meia a dormir. Disse-lhe “mãe, estou aqui. Correu tudo bem.” E ela pergunta-me “porque é que o pai está a chorar?”. Nesse momento só me apeteceu rir. A sério. No meio daquilo tudo, e com a quantidade de sedativos, esta era a pergunta mais genuína e saudável que a minha mãe podia fazer.
Respirei de alívio e, confesso, saí a chorar.
Do diagnóstico à operação foi um tiro. Sendo que, pelo meio, perdi uma avó e o meu irmão emigrou, foi para o outro lado do atlântico, de malas e bagagens sem bilhete de volta. 
É claro que, no dia da operação, com 4 horas de diferença, liguei (ou acordei, vá) o meu irmão, para lhe dar a boa nova.
Mas depois de toda a confusão de ser daqui e depois ser dali, depois de uns centímetros a menos de intestino e de um tumor que já dava para um aperitivo, por mim estava resolvido. Se não tinha sido desta, pois então a doença que se pusesse a pau porque não era só a minha mãe a lutar, éramos muitos a festejar a vida e a celebrá-la.
E o meu feeling deu mais do que certo. Era maligno mas a minha mãe estava limpa. O tratamento que iria fazer era meramente preventivo.
Só que não era assim tão “meramente”. Quimio. A palavra que ninguém quer ouvir. Oral, comprimidos, tudo bem, não cai o cabelo, não se preocupe. Mas com ela mais 18 comprimidos diários para proteger o corpo de tudo. Ainda assim, enjoos, inchaços, impedimento de apanhar sol, reação negativa ao calor e transformações corporais foram acontecendo.
Não foi fácil principalmente para ela. Acho tão difícil partilhar a dor do tratamento. Acho que é tão pessoal que a nós resta-nos apoiar, incentivar, acompanhar e distrair.
E assim têm sido estes três últimos anos, quase quase a acabar. Visitas mensais ao IPO, o abandono dos meus pais por três meses para fazer a viagem da minha vida, o regresso e o aviso “vou sair de casa”, dias de chamadas a dizer “está tudo bem, mas vou ter de levar transfusão”. Dias esses em que voava para o hospital de dia para junto dela, horas e horas entre análises e transfusão. Ajuda dos voluntários para aqui, ajuda aos restantes pacientes que estão em tratamento para ali, conversas com enfermeiras, visitas a algum conhecido que acabava por estar lá internado.
A minha mãe está quase a terminar o tratamento. A minha avó materna safou-se de um na mama. A minha bisavó, quando morreu, era doente do IPO há 80 anos por causa do seu cancro da pele.
O meu avô não foi a tempo. Se calhar, nós não fomos a tempo. Há três semanas.
Hoje é um dos dias mais importantes para mim, para ser assinalado, para ser elemento de transformação nas pessoas.

E hoje, graças à “hipocondriaquice” vs “sou médica, enfermeira e farmacêutica” da minha mãe, estamos todos juntos.