segunda-feira, 27 de março de 2017

27 março

Do Dia Mundial do Teatro.
Dos medos.
Dos sonhos.
Das saudades.
Da paixão.
Da poesia.
Do amor.
De um projeto de vida, turbulento, que se vai construindo e reconstruindo, tentando encontrar o meu caminho todos os dias.


Fotografia de Carlos Gomes, "Cahahahahabaret" 2012



Mensagem do Dia Mundial do Teatro aqui e aqui.

quinta-feira, 23 de março de 2017

O pai no parto

Hoje, logo pela manhã, cruzei-me com esta publicação do P3.
Desde miúda que brincava aos partos, sonhava ser obstetra, era vidrada em coisas de bebé.
Depois das várias voltas que a vida levou, já grávida, surpreendi-me ao pensar e verbalizar que desejava muito que a bebé nascesse de cesariana. A episiotomia fazia-me uma impressão dos diabos. Provocava-me contrações e arrepios. Não queria nem pensar nisso. Nisso e na hipótese de não ir a tempo de levar anestesia.
Andei a culpar-me por desejar a cesariana, mas verbalizava-o porque sabia que muitas outras mães pensavam no mesmo.

Às 32 semanas, a Rita não tinha dado a volta. Estava sentadinha, a curtir o aconchego da barriga.
Às 38 semanas tudo se mantinha. E às 39. E às 40.
Por isso, precisamente há 2 meses, pela manhãzinha, estava com 40 semanas + 1 dia, e entrava na maternidade para a Rita nascer. Com dia e hora marcada.

Quando soube que ela não tinha virado, e depois de ler tudo e mais alguma coisa, fiquei triste. Para o nosso bem já só desejava o parto normal. Imaginava as situações mais insólitas para as águas rebentarem e andava sempre à procura de descobrir o que seria uma contração. Afinal, se eu nunca tinha tido, como saberia o que era?
Mas, à medida que o tempo ia passando, sabia que a cesariana era inevitável. A previsão era de que ela fosse um bebé muito grande. E eu pequenita. Sem grande espaço nas ancas. E ela sentada.

Mentalizei-me e problema resolvido. O pai podia assistir à cesariana, e o que eu mais desejava era que o nascimento fosse um momento nosso. Estava tudo certo.
Às 39 semanas fui à urgência, já com alguns sinais de parto. Passou-me pela cabeça garantir com a obstetra que o pai iria assistir à cesariana, como estava previsto na lei.
Ela respondeu de imediato, com um sorriso: "-Não."

Saí de lá doida. Chateada com tudo. De lágrimas nos olhos e a telefonar ao meu homem, a dizer que ia rever a legislação, que não podia ser assim, "não" e acabou.
Do outro lado só me lembro de ouvir: "Calma. Não vale a pena estares assim. São minutos e eu vou lá estar, do outro lado da porta."

Assim foi. E tudo correu tão bem quanto poderia esperar. A equipa que estava no bloco era fantástica, e as auxiliares fizeram muito bem a ponte entre mim e o pai.
Passada menos de uma semana depois do parto, dizia que se fosse sempre assim já estava pronta para outra!
Mas, havendo uma outra, o meu primeiro pensamento foi garantir que, caso acontecesse, o pai iria estar presente. Custasse o que custasse. Fosse normal ou cesariana.

Ao ler isto, espero que a legislação não ande para trás. E que em pouco tempo, todos os hospitais públicos tenham condições para que o pai possa acompanhar a mãe.

Durante todo o processo, o pai é sempre posto à margem pelo sistema de saúde. É preciso mudar isto.

quarta-feira, 22 de março de 2017

2001

Não sabemos se o que se passou em Londres foi um ataque terrorista ou não.
Não sei por que não sabemos.
O que aconteceu não tem terror suficiente?

Estava numa consulta e só no carro fiquei a saber.
Jornalistas e outros falavam em direto.

Por momentos pensei no pânico e na dedicação dessas pessoas, ao estarem ali, no local, empenhadas em noticiar tudo. Com boas e más notícias. Mesmo sabendo que, à partida, estão em segurança, porque o atentado já foi e as forças policiais estão lá.

Depois, pensei na adrenalina do jornalismo. Que deve ser isso mesmo.

Mas concluí que, hoje em dia, é só mais um dia.
1 ano depois, já não me lembrava do atentado de Bruxelas.
Daqui a uns tempos, não me vou lembrar de Paris, Cannes ou Berlim. Serão só mais um.

Esta madrugada vi, pela primeira vez, uma parte do filme Voo 93.
Desde setembro de 2001 que a minha vida mudou. A nossa vida.

Hoje, infelizmente, parece só estar a normalizar.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Do dia de ontem

Há precisamente 7 semanas estava assim. Gravidíssima, na véspera da Rita nascer. Apesar de todas as expectativas, nunca poderia imaginar que a Rita ia ter mesmo o melhor pai do mundo. Nem que o meu pai iria ser o melhor avô do mundo. Nem que iria passar tanto tempo a imaginar como seria o meu avô como bisavô, e como dava o mundo para que ele pudesse conhecê-la. Feliz dia do pai àqueles cujas mães sempre foram o melhor pai do mundo. Àqueles que todos os dias aprendem a viver com a saudade. Àqueles que estão longe dos pais ou dos filhos. Àqueles que sempre desejaram ser pais e não o são. Feliz dia e feliz vida aos meus.