sexta-feira, 6 de novembro de 2015

o dia dele!

Este ano o Carnaval calhou quase com o aniversário da tua partida. Há três anos que embalaste a tua vida em duas malas e atravessaste o oceano sozinho.
Nessa noite, depois de passar o dia com um camadão de nervos, os pais foram ao café. Na TV Brasil, canal que eu desconhecia completamente, via, pela primeira vez, o gostosinho do Diogo Nogueira no seu Samba na Gamboa. Melhor do que isso só mesmo o convidado ser o Caetano. Vidrei e, pela primeira vez, ouvi a música que me transporta até ti.


Graças a ti fiz a viagem da minha vida. Três meses aí, a viajar, a viver. A loucura das condições de vida aí, a preocupação em garantir o teu bem estar e o abandono dos pais. 


Falhou-nos o Corcovado e a Pedra da Gávea. Mas na próxima compensas.

Tinha isto escrito aqui desde dia 12 de fevereiro.

Hoje é o teu dia. Tanta coisa mudou entretanto. Casaste. Vieste cá. Estivemos novamente juntos desse lado. E agora são alguns meses de espera para a tua volta.

A relação que tenho hoje contigo foi aquela que sempre desejei. E veio em tempo certo, acredito eu.

Mas também desejei todas as vezes que jogávamos à porrada no quarto dos pais.

E as vezes em que nem era preciso falar para entrarmos numa de gozo de quem estivesse ao pé de nós.

Só desejo que sejas o mais feliz do mundo.

Parabéns, mano!





segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Posso ir lá de avião

Há dias, só porque sim, que dói muito.
E nunca pensei que fosse ser assim.

No dia em que perdi o Armando foi estranho. Ainda por cima o meu pai fazia 50 anos.
No dia a seguir, só me lembro de abraçar a Piôa e apetecer-me chorar. Mas passou. Hoje falo muito nele e nas memórias que tenho das nossas brincadeiras, dos jantares e dos vestidos que me oferecia. Era o “meu” macacão e nunca mais ninguém ocupará o seu lugar.

Anos mais tarde veio a minha bisavó. A avó Yé-yé. Foi tudo tão diferente. Só desejava que o seu sofrimento e o nosso acabasse. Que ela encontrasse a paz que sempre a ouvi pedir. A verdade é que ela gostava muito de viver, mas bem. Não no ponto a que chegou. Foram 103 anos. Mais do que uma vida cheia.
Dela guardo os poucos cabelos brancos aos 103 anos. A sua casinha tão pequenina. As suas histórias e anedotas. Manias. As conversas e o seu feitio afiado. Tenho saudades da gargalhada que ela dava quando contava a história do Noé e das suas finas e compridas mãos. Sempre que volto a casa da minha avó olho para o lugar dela é vejo-a com o prato cheio de tudo o que há na mesa. O pão ao pé do prato.

Entretanto perdi os meus avós paternos. Confesso que a ligação não era muita mas nunca desejei ver o meu pai sofrer como sofreu. Nem os meus tios. Caramba, quantas vezes questionei o porquê de haver vidas tão tramadas e fins de vida ainda piores. Mas, na crença e na paz deles, encontraram o seu caminho e acredito que se mantenham juntos, estejam onde estiverem. E que continuem a deitar o olho aos tantos e tão queridos filhos.

Agora foi o meu avô. O Alberto. Ou o Lambina. Ou o Beto. Ou o “vô”.
Aquele que eu tratava por tu e com quem podia passar horas e dias a falar e passear. Aquele com quem partilhei as férias, as festas da escola, todos os domingos e muitos fins de tarde. O avô que durante anos comprou Coca-Cola e Sumol de Ananás para o almoço de domingo. E que, já nos 70, mudou. Acreditou que era possível a mudança e fê-la por si, pela minha avó e pela família. Transformou-se num exemplo. Um pai exemplar como não o tinha sido, um avô-herói, um marido tão presente e cooperante.
O meu avô gostava tanto de viver. Assim como a mãe dele.
Conhecia meio mundo e o outro meio conhecia-o.
Tenho tantas saudades. Tenho saudades de o encontrar no Continente de boina e com as mãos atrás das costas. Tenho saudades do seu dedo do meio cortado desde que me lembro e de o ouvir contar as suas histórias mirabolantes.
Tenho saudades dos dentes novos, que pôs há 1 ou 2 anos e do ver com a minha avó, em constante embirração mas em constante amor.

Nunca pensei que doesse tanto.

Às vezes vejo-o na rua. Tantas e tantas vezes reinventado em outros avôs ou maridos que passeiam, que conversam, com quem me vou cruzando.

Só me pacifica o facto de saber que ele estava sempre de bem com a vida, e por isso, foi daqui bem connosco. Descansada e com um sorriso na cara, como sempre.

Tenho pena que os meus filhos não o possam conhecer.

Há dias o meu irmão dizia-me que o tempo não ajudava nada, que isso era treta.
Espero que o tempo alivie a dor e me permita matar todas as saudades com as melhores recordações que guardo dele.



Avô, onde estiveres, bronzeia a perninha.