segunda-feira, 28 de agosto de 2017

A Clara e a Cristina

Sexta-feira poderia ser o primeiro dia de creche da Rita.
Não vamos lá.
Só na segunda.
Adiei o máximo que pude.

Ando ansiosa. Já sonhei muito com a creche e já acordei muitas vezes de noite.
A Rita é a minha bebé.
Só tem 7 meses e, a partir de segunda-feira, vamos ter de praticar a nossa separação, aos poucos, até eu voltar ao trabalho.

Conheço o espaço e as pessoas.
Sei que ela vai ser muito bem acolhida e tratada.

Mas... Há sempre um mas.
Ninguém conhece os seus choros e os seus sinais como eu.
E se... há sempre um, muitos se.

A única coisa que me tranquiliza é pensar na minha Clara e na minha Cristina.
Nas duas pessoas que, embora não tenha memórias, fizeram parte desses primeiros anos da minha vida.
Que me devem ter dado muito mimo e me devem ter feito muito feliz, porque adoro revê-las, lembrá-las e ainda hoje me derreto se me chamam besnica.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Parabéns!

A vida trouxe-me pessoas maravilhosas.
Pessoas que entraram de rompante. Pessoas que entraram de mansinho. Pessoas que não sei quando entraram porque sempre fizeram parte das minhas memórias. Pessoas frágeis. Pessoas fortes. Pessoas com um feitio diferente do meu.
A vida trouxe-me a Joana.
A Joana chegou no 8º ano. Falava, falava, falava, falava, falava, falava...
Não sei bem quando nos tornámos, efetivamente, amigas. Mas tenho ideia de que foi um processo muito rápido. Lá está, se olhar para trás, parece que sempre foi assim.
A Jo, Jojo, a Marroquina, a Joaninha, a Janikinhas, a Joana.
A Joana hoje faz 26 anos e, desde que nos conhecemos, este é o 2º ano em que não estamos juntas.
A Joana teve de emigrar.
E a Joana (que não sabe desta parte), desde que a Rita nasceu, tem ganho todo um novo significado na minha vida.

Há pessoas com vidas muito cruéis e madrastas. Muito mesmo. Com problemas tão grandes e graves que, muitas vezes, não sabem como se hão de agarrar à vida.
A Joana teve um vida de merda. Sem grandes pormenores, nunca desejaria a vida que ela teve até há poucos anos a ninguém.
Acontece que ela nunca desistiu. Lutou muito. Ergueu-se vezes sem conta. Quase sempre sozinha, porque a nossa ajuda seria sempre tão minúscula em situações como as que ela passou.
A Joana é uma grande mulher. Tem muita garra, tem um feitio único e um humor sem limites.
Vive para aqueles que ama incondicionalmente e é lindíssima.

Depois de ser mãe, além da história da sua vida ganhar toda uma nova dimensão e intensidade, a sua garra e a forma como chegou onde chegou fazem-me acreditar que se eu conseguir que a Rita tenha um pouco da sua garra e fome de ser feliz, terei uma grande mulher como filha.

Obrigada Joana.
Sabes que te amo como se fosses do meu sangue e que fazes parte da família.

Tem um dia feliz.
E vem logo que possas conhecer a tua sobrinha!

À esquerda a nossa filha, no meio a virtude (deste post) e à direita o meu nariz e eu. Na última noite a Joana connosco em PT.

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Teorias Espetaculares Deste Mundo #1

Vamos falar de bebés?
Iupiiii.
Vamos falar de soluços?
Siiiim.
Sabem como parar os soluços nos bebés?
NÃÃÃÃO!!!

Querem aprender?

1. Ponham-lhe uma linha vermelha no meio da testa.

2. Deitem-no/a com a cabeça nos pés da cama.

3. Façam a cama de lavado.

4. Vistam-no/a que deve ter frio.

5. Mudem-lhe a fralda.

Gostaram das primeiras três?
Absolutamente espetaculares, não acham?

Que a miúda tenha frio ou a fralda húmida, até no Centro de Saúde já me disseram.
Agora esta sabedoria popular, o power de uma linha vermelha no meio da testa, ou a loucura de a deitar com a cabeça nos pés na cama... Aaaaah! Maravilha!

Quem sabe, sabe!

Problemas graves com a maternidade #resolução1

Já ando para vos vir contar isto há muito, mas o Tio Belmiro, pelo menos no CoimbraShopping, lembrou-se que as mães com carrinhos de bebés também mijam têm necessidades fisiológicas.

Por isto, na casa-de-banho que se destinava a deficientes temos um novo sinalzinho, uma cadeira de rodas / uma pessoa com carrinho de bebé.

No caso, penso ser uma senhora.
E eu também escrevi para mães...

Mas, queridos paizinhos, sintam-se incluídos!

terça-feira, 23 de maio de 2017

Tu cá tu lá, bardamerda para ti...

...e para todos os que não são adeptos do Sporting.
Ou não.

Migos e migas, senhoras e senhores, vamos ver se nos entendemos.

Tenho 25 anos e não tenho alzheimer. Pelo que, felizmente, lembro-me bem de quem andou comigo na escola. Dos professores. Dos funcionários. Enfim.

Tenho emprego, carro, casa, família, uma conta no banco, contas mensais, e todas essas vicissitudes.

Por isso, expliquem-me por que razão decidem tratar-me por tu.

Fico perdida. Pior, fico f*dida!

Mesmo que não tivesse nada do que escrevi. Por que é que me tratariam por tu?

Conhecem-me?
Mesmo que fosse figura pública. É ridículo as pessoas tratarem figuras públicas por tu, só porque acham que as conhecem da TV.

Acho que, para resolver o problema, só tenho duas hipóteses:

1. começo a tratar a pessoa por tu também (afinal devemos conhecer-nos e eu não me lembro);
2. pergunto-lhe, tratando-a por você, onde nos conhecemos.

Problema maior do que este: ultrapassar aquilo que, para mim, é faltar ao respeito, e fazer mesmo uma dessas opções.

Caraças, pá.

4 meses de Rita + 1

23 de maio é uma data que não passava de ser o dia a seguir ao aniversário do meu homem. Ou o 5º dia de são receber para muitos funcionários públicos.
Mas deixou de o ser.
A Rita faz hoje 4 meses.
E foi precisamente há um ano, talvez até por esta hora, que soube que estava grávida.

Lembro-me bem dessa altura.
Andava muito enjoada. Atraso grande na menstruação.
Mas não liguei muito. Andava cheia de trabalho, com os sonos trocados, o dia e a noite fundiam-se e passava horas fechada em salas de espetáculo. A casa andava às costas e comíamos onde dava. Em escolas, restaurantes assim, restaurantes assado...

O C fez anos, e, finalmente, não havia trabalho nesse dia.
Ele decidiu, e eu adorei, convidar família para almoçar - esquecendo-se que era o seu aniversário, apenas porque tínhamos um cabrito ótimo para cozinhar.

Eu tinha tudo pensado - festa surpresa com os amigos. Éramos uns 30 cá em casa. Amigos de hoje, amigos de sempre, família.

Depois de almoço conseguimos que ele fosse mostrar um dos cafés cá do sítio à família, enquanto preparámos tudo!

Os doces e salgados que a família tinha trazido estavam escondidos no sótão.
As pessoas iam chegando e trazendo mais comida.

Havia de tudo o que eu gostava.
Mas estava com um enjoo de morte.
Mas se eu não comesse... Mais perguntas viriam.

Ele já andava desconfiado.
Então, pensei que era melhor comer tudo o que queria naquele dia, porque no dia seguinte ia fazer um teste de gravidez. E se fosse positivo... viriam aí restrições!

A festa lá se passou, e eu só queria que a comida desaparecesse da minha frente, que já não aguentava mais.
Tinha ido ao médico há uns dias, fazer análises para saber se estava tudo ok.

Segunda de manhã fui à farmácia.
-Se faz favor, queria o teste de gravidez mais barato que tiver.
-Ai menina, há um ótimo, um bocadinho mais caro, mas com resultados exatos.
-Não vale a pena, é só para despistar.

Xixi na pipeta. Não se passaram 10 segundos até aparecerem 2 tracinhos.
"Está estragado!" - pensei eu.

Antes de qualquer festejo, voltei à farmácia.
-Afinal quero o melhor que aí tiver.

Trouxe-o. Esperei os 10 minutos mais longos da minha vida.
E, no ecrã, "4-5 semanas".

Pronto. Estava grávida.

A partir daí, tudo melhorou.
Foram 9 meses fantásticos, felizmente.
E estes 4 trouxeram a melhor mudança possível à minha vida.

Nem todas as histórias são bonitas.
Mas, até agora, temos a sorte de ter uma bonita história.
E de a irmos alimentando todos os dias.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Problemas graves da maternidade #3

Bem, isto se calhar deveria chamar-se "Problemas graves da maternidade em centros comerciais".
Mas pronto.

Vamos lá?

Ir às compras.
Ir às compras para casa com um bebé.
Ir às compras para casa com um bebé no seu carrinho não nos permite levar um carrinho para as compras.
Ir às compras com um bebé no ovo dentro do carrinho de compras deixa-nos espaço para trazer menos coisas do que caberiam num cesto.
Ir às compras com um bebé no ovo dentro do carrinho de compras que depois chora, vem para o colo, enchemos o carrinho e o ovo com coisas e depois temos de levar as compras e o bebé até ao nosso carro, não funciona.
Ir às compras para a casa com um bebé é um bom exercício.

Claro que poderíamos ir em várias vezes. Tipo: "Agora consigo levar o peixe e os legumes. Vou pagar, por no carro e voltar a entrar para comprar os detergentes. Depois venho buscar a mercearia. Volto a pagar. Vou às bebidas. E volto a pagar."
Só que isto não acontece. Além disso, achariam que éramos doidas, maníacas, que teríamos algum TOC, ou que éramos só parvas.

Então, vamos lá: há carrinhos com assentos para bebés.
Mas NÃO HÁ carrinhos desses em todo o lado.
Aliás, na verdade, estou a lembrar de dois sítios onde vi mais do que um carrinho desses disponível.

Fui com a miúda às compras - porque estamos em casa e assim escuso de me enfiar num hipermercado ao fim do dia ou ao fim-de-semana - e foi um filme só.
Levei o marsúpio. A gaja adormeceu no caminho. Plano do marsúpio de lado.
Procurei carros com assentos para bebés. Ups, não havia.
Plano C - vamos ver como corre.
Foi uma ginástica sem fim. E vou ter de lá voltar para ir buscar o que falta.

Senhores dos hipermercados, pensem lá nisso.

Nota - escrevo no feminino porque estou a pensar na mãe que sou e nas várias mães com que me cruzo naquilo a que chamo "hora do bebé". Claro que os pais também podem sofrer o mesmo. Sem fundamentalismos!

terça-feira, 9 de maio de 2017

A todas as Brigittes

Desde que o Macron ganhou destaque que a imprensa, no seu melhor, foi buscar a sua relação de 20 anos e as suas características.

Macron e Brigitte têm 25 anos de diferença. Só que, a diferença, é que ele não é 25 anos mais velho do que ela. Ele tem 39 e ela 64. Ela era professor e ele aluno. Menor. Esperaram pelos seus 18 anos, ela divorciou-se e ele pediu-a em casamento.
E então? Pergunto eu.
Mexe com o sono de alguém?

Eu e o meu homem temos 24 anos de diferença. Eu, 25, ele 48 - 49 daqui a duas semanas. Conhecemo-nos desde os meus 6 anos, talvez. Encontrámo-nos, no amor, há quase 3 anos. O filho dele é mais velho do que eu. Mas ele tem irmãos mais novos do que o filho.
E então? Pergunto eu.
Se faz comichão, põe disoderme.

O Rodrigo e o Leo, as minhas baleias brasileiras, são homossexuais e, felizmente, fazem a sua vida normal. Não precisam de dizer que o são porque nós também não andamos a espalhar pelo mundo que somos hétero. São extravagantes e lindos demais. Amam perdidamente e vivem a vida de uma forma linda.
E então? Pergunto eu.
Não gosta? Não tem que gostar.

A Rebecca converteu-se ao islamismo porque estudou tanto que gostou. Ou só porque quis. Sem estar apaixonada por qualquer muçulmano. Defende os direitos humanos e é das ciências sociais.
E então? Pergunto eu.
Incomoda-te? Não saias de casa.

A Cat é moçambicana. Mas é a moçambicana mais branca que conheço. Dá até vontade de gozar. É uma mulher africana maravilhosa. E uma gorda linda. Gosta do seu corpo, veste o que quer e quando quer. Usa bikini e é uma mulher fantástica.
E então? Pergunto eu.
Não quer ver? Olha para o lado.

Na minha família paterna, há 7 tios, e, entre muito casa e descasa, já se cruzaram 8 nacionalidades. Somos muitos e quase nunca nos juntamos. É praticamente impossível estarmos todos. Partilhamos o nome, um carinho especial, e algumas memórias pontuais.
E então? Pergunto eu.
Somos disfuncionais? Qual é o seu horário de funcionamento?

Brigittes e Macrons, neste mundo, há muitos.
Mas garanto-vos que há coisas muito mais interessantes e importantes para dedicarmos tempo do que a essas diferenças.

Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer.

«Mar Me Quer», de Mia Couto


segunda-feira, 8 de maio de 2017

Convenções que não matam mas...

moem.
E há dias em que moem mesmo.

Domingo foi dia da mãe e, pelos vistos, era suposto que me sentisse especial.
Para mim foi apenas domingo.
Nem foi o dia do cortejo, nem foi o dia da mãe, nem foi o aniversário de 13 pessoas entre família e conhecidos.
Não.
Domingo foi o primeiro dia, em muito tempo, em que estive com o meu homem em casa todo o dia, sem precisarmos de ir aqui ou ali, de pegar no carro, de vestir qualquer coisa assim ou assado, de responder ao telemóvel ou ao computador.
Foi o primeiro dia, em muitas semanas, em que ele pode aproveitar o sofá e eu a sua companhia. E em que estivemos entregues, literalmente, à bicharada - entre crianças e animais.
Foi a primeira vez que ele cozinhou daquela forma bonita como só ele cozinha, desde há umas semanas.
Foi aquele dia em que a Rita adormeceu no início do almoço e pudemos estar à mesa horas, com família e amigos.

No domingo foi um dia especial. Não por ser dia da mãe.
Mas por ser, finalmente, um domingo dos nossos.

Ainda assim, obviamente, a minha mãe sabe que todos os dias são dia da mãe para nós. Para mim e para ela. E que não é preciso um dia para o celebrar.

O dia da mãe vale pelo pretexto de lhe poder dar um mimo. Mas nem isso neste domingo.

O nosso dia da mãe há-de ser um dia destes. Ou todos os dias da nossa vida.

Mi madre y sus muchachos, em 1992.

Problemas graves da maternidade #2

Bem, voltemos aos Centros Comerciais e às suas casas-de-banho. (Adoro conversas de merda.)

Qual é a ideia de, nos fraldários, ter ambientadores que dão náuseas até a quem não tem olfato?

É porque o cocó dos bebés cheira mal?
Asseguro-vos que não cheira tão mal como o nosso. E olhem que nunca convivi com tanto cocó na minha vida como nos últimos 3 meses.

É para abrirmos a porta e parecer que estamos no corredor dos detergentes do Jumbo?

Ou é para irmos ao balcão de informação perguntar se é Brise ou Ambipur e a seguir ligarmos para a DECO a denunciar que tal produto nos seca as mucosas nasais?

Pois é. A Rita não suporta esses cheiros. Se os vossos bebés suportam, ótimo. Mas eu sou aquela mãezinha que tem de mudar a fralda, a menos que seja cocó, nos bancos dos corredores ou no carro.

Porque se querem ver a Rita bruta... é levá-la ao fraldário.

A única vantagem disto, é quando as "bruxas" se aproximam dela cheias de Poison, Opium e afins e ela chora que se farta, porque cheiros fortes não são com ela.


sexta-feira, 5 de maio de 2017

Problemas graves da maternidade #1

Então, minhas boas pessoas, pensem lá comigo:

Eu vou ao shopping com a Rita. Sozinha. É ótimo.
Estamos numa fase chata do tempo. Se está frio, não podemos passear. Se está calor, ela transpira que nem uma doida. Se chove, não dá para andar na rua.
Então o que nos sobra? Centros comerciais.

Agora pergunto eu?

1. Mesmo com aqueles lugares destinados a famílias com crianças de colo à porta do shopping, como é que eu, sozinha, vou conseguir empurrar/puxar a porta e empurrar o carrinho ao mesmo tempo?
Fórum Coimbra, está na altura de pensarem nisso!
Dolce Vita, se houvesse destes lugares já não era mau...

Mas eu ainda sou uma pessoa que tem reservas de gordura para gastar, e alguma flexibilidade herdada de alguns anos de dança. Faço uma ginástica e pronto.
Mas como faz uma pessoa em cadeira de rodas? Tem 5 lugares à porta para estacionar, mas se não for um caso daqueles em que não pode sair sozinho, não pode conduzir, não pode colocar-se na cadeira, etc., como abre a porta? Já para não dizer que a altura das maçanetas é para quem anda em duas pernas...

2. Bom, mas continuando o nosso périplo pelo shopping, mamãe fica com a bexiga cheia, ou dá-lhe uma vontade daquelas.
Como é? Deixamos a criança à porta da casa de banho? Pedimos a alguém que olhe por ela, sem pensarmos no Rui Pedro e na Maddie? Aguentamos? Vamos só ali ao Continente comprar fraldas para a incontinência e da próxima já vimos prevenidas?

A-m-i-g-o-s, a solução, até agora, tem sido uma: casa de banho dos deficientes.
Porém, no outro dia, no NorteShopping, estava eu descansadinha e a Rita não estava a gostar de estar ali. Começou a chorar. Eu a mijar. E alguém, do outro lado da porta, a bater como se não houvesse amanhã.

Gente, mesmo que quem estivesse do outro lado fosse alguém com (mais) legitimidade para usar a casa-da-banho - não podia ser um outro deficiente lá dentro? É certo que a Rita tinha a goela bem aberta, e não estava contida no volume, mas...

Conclusão: quando nos vemos nestas situações é que percebemos como é difícil ter algum tipo de mobilidade, neste caso, condicionada.

Senhores dos centros comerciais, pensem lá nisso!

quinta-feira, 20 de abril de 2017

2 meses de Rita e...

...já foi duas vezes à praia.
...já bebe água.
...já foi ao hospital.
...já lhe tiraram sangue do braço e do pescoço.
...já brinca no banho.
...já fala muito na sua língua.
...já sorri e ri para tudo e todos.
...já dorme entre 7 a 9 horas seguidas à noite.
...já tenta segurar a cabeça.
...já mudou de leite 3 vezes.
...já veste para 6 meses.
...já bebe muito leite.
...já foi a museus.
...já foi a um centro cultural.
...já ouviu muita música.
...já se derrete toda para o pai.
...já quer ficar sentada.
...já tem diagnóstico de pele atópica.
...já me pôs à prova com frustrações.
...já aguenta muito tempo sozinha nos seus monólogos com o móbil.
...já me mostrou que é tudo o que desejei, mas melhor ainda.
...já me fez chorar de medo.
...já me fez chorar de alegria.
...já me fez acreditar que, desde que nasceu, todos os dias a vida ganha mais sentido.
...já me fez ter saudades de ir ao teatro, a concertos.
...já me fez ter saudades de namorar a dois, sem horas e sem preocupações.
...já me fez ter saudades de sair para jantar, beber uns copos e dançar.
...já me fez ter saudades de estar sozinha.
...já me mostrou que todo esse desconforto me traz o melhor da vida.

Domingo chegamos aos 3 meses.
Até lá, comemoraremos cada dia das nossas vidas.

segunda-feira, 27 de março de 2017

27 março

Do Dia Mundial do Teatro.
Dos medos.
Dos sonhos.
Das saudades.
Da paixão.
Da poesia.
Do amor.
De um projeto de vida, turbulento, que se vai construindo e reconstruindo, tentando encontrar o meu caminho todos os dias.


Fotografia de Carlos Gomes, "Cahahahahabaret" 2012



Mensagem do Dia Mundial do Teatro aqui e aqui.

quinta-feira, 23 de março de 2017

O pai no parto

Hoje, logo pela manhã, cruzei-me com esta publicação do P3.
Desde miúda que brincava aos partos, sonhava ser obstetra, era vidrada em coisas de bebé.
Depois das várias voltas que a vida levou, já grávida, surpreendi-me ao pensar e verbalizar que desejava muito que a bebé nascesse de cesariana. A episiotomia fazia-me uma impressão dos diabos. Provocava-me contrações e arrepios. Não queria nem pensar nisso. Nisso e na hipótese de não ir a tempo de levar anestesia.
Andei a culpar-me por desejar a cesariana, mas verbalizava-o porque sabia que muitas outras mães pensavam no mesmo.

Às 32 semanas, a Rita não tinha dado a volta. Estava sentadinha, a curtir o aconchego da barriga.
Às 38 semanas tudo se mantinha. E às 39. E às 40.
Por isso, precisamente há 2 meses, pela manhãzinha, estava com 40 semanas + 1 dia, e entrava na maternidade para a Rita nascer. Com dia e hora marcada.

Quando soube que ela não tinha virado, e depois de ler tudo e mais alguma coisa, fiquei triste. Para o nosso bem já só desejava o parto normal. Imaginava as situações mais insólitas para as águas rebentarem e andava sempre à procura de descobrir o que seria uma contração. Afinal, se eu nunca tinha tido, como saberia o que era?
Mas, à medida que o tempo ia passando, sabia que a cesariana era inevitável. A previsão era de que ela fosse um bebé muito grande. E eu pequenita. Sem grande espaço nas ancas. E ela sentada.

Mentalizei-me e problema resolvido. O pai podia assistir à cesariana, e o que eu mais desejava era que o nascimento fosse um momento nosso. Estava tudo certo.
Às 39 semanas fui à urgência, já com alguns sinais de parto. Passou-me pela cabeça garantir com a obstetra que o pai iria assistir à cesariana, como estava previsto na lei.
Ela respondeu de imediato, com um sorriso: "-Não."

Saí de lá doida. Chateada com tudo. De lágrimas nos olhos e a telefonar ao meu homem, a dizer que ia rever a legislação, que não podia ser assim, "não" e acabou.
Do outro lado só me lembro de ouvir: "Calma. Não vale a pena estares assim. São minutos e eu vou lá estar, do outro lado da porta."

Assim foi. E tudo correu tão bem quanto poderia esperar. A equipa que estava no bloco era fantástica, e as auxiliares fizeram muito bem a ponte entre mim e o pai.
Passada menos de uma semana depois do parto, dizia que se fosse sempre assim já estava pronta para outra!
Mas, havendo uma outra, o meu primeiro pensamento foi garantir que, caso acontecesse, o pai iria estar presente. Custasse o que custasse. Fosse normal ou cesariana.

Ao ler isto, espero que a legislação não ande para trás. E que em pouco tempo, todos os hospitais públicos tenham condições para que o pai possa acompanhar a mãe.

Durante todo o processo, o pai é sempre posto à margem pelo sistema de saúde. É preciso mudar isto.

quarta-feira, 22 de março de 2017

2001

Não sabemos se o que se passou em Londres foi um ataque terrorista ou não.
Não sei por que não sabemos.
O que aconteceu não tem terror suficiente?

Estava numa consulta e só no carro fiquei a saber.
Jornalistas e outros falavam em direto.

Por momentos pensei no pânico e na dedicação dessas pessoas, ao estarem ali, no local, empenhadas em noticiar tudo. Com boas e más notícias. Mesmo sabendo que, à partida, estão em segurança, porque o atentado já foi e as forças policiais estão lá.

Depois, pensei na adrenalina do jornalismo. Que deve ser isso mesmo.

Mas concluí que, hoje em dia, é só mais um dia.
1 ano depois, já não me lembrava do atentado de Bruxelas.
Daqui a uns tempos, não me vou lembrar de Paris, Cannes ou Berlim. Serão só mais um.

Esta madrugada vi, pela primeira vez, uma parte do filme Voo 93.
Desde setembro de 2001 que a minha vida mudou. A nossa vida.

Hoje, infelizmente, parece só estar a normalizar.

segunda-feira, 20 de março de 2017

Do dia de ontem

Há precisamente 7 semanas estava assim. Gravidíssima, na véspera da Rita nascer. Apesar de todas as expectativas, nunca poderia imaginar que a Rita ia ter mesmo o melhor pai do mundo. Nem que o meu pai iria ser o melhor avô do mundo. Nem que iria passar tanto tempo a imaginar como seria o meu avô como bisavô, e como dava o mundo para que ele pudesse conhecê-la. Feliz dia do pai àqueles cujas mães sempre foram o melhor pai do mundo. Àqueles que todos os dias aprendem a viver com a saudade. Àqueles que estão longe dos pais ou dos filhos. Àqueles que sempre desejaram ser pais e não o são. Feliz dia e feliz vida aos meus.


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

1 mês

Quando nasceu ainda não tinha nome.
Assim que a viram, todas as mulheres que constituíam a equipa do bloco disseram: "Não tem cara de Alice!"
E não tinha. Sobravam as outras duas hipóteses: Madalena ou Rita. Mas uma bichinha tão pequenina, com 46 centímetros chamar-se Madalena... Não dava. Ao fim de algumas horas de vida ficou Rita. Oficialmente Rita.
Foi há um mês, e tem sido tudo tão-tão-tão que já me ouvem dizer que estou pronta para outra!
Mesmo em dias como os últimos, onde não consigo fazer nada porque ela não dorme e quer mimo, mesmo nos dias em que não almoço e não consigo imaginar como será quando começar a trabalhar tal é o caos, mesmo nos dias em que dou por mim à hora de almoço e ainda nem os dentes lavei.
A Rita entrou na nossa vida e parece fazer parte dela desde o início.
A Rita é a única bebé que já nasceu lindona, no mundo. É a filha mais bonita do mundo. É o bebé mais querido que há. É a minha bichinha, a minha bochechas. E toda a parolada e clichés que existam.

E parece que andou 9 meses dentro de mim e saiu a cara do pai. Ingrata esta vida de mãe..