terça-feira, 16 de novembro de 2021

Carta aos Adultos

 E ao tempo que eu não vinha aqui, e as dezenas de ideias para escrever que deixei escapar...

Ainda assim, há um tempo para tudo, e acho que uma iluminação que me surgiu ontem agrega muita coisa que queria ter escrito nos últimos tempos.


Carta aos Adultos


Ser criança é difícil para caramba. Vivem no seu mundo, com uma energia desmesurada, e levam constantemente com convenções, ordens e humores dos adultos.

Não me sinto uma super mãe, mas sinto-me mesmo a melhor mãe do mundo para a minha filha.

Conversamos muito. Desde que nasceu que conversamos bastante. E não há nada melhor do que boa comunicação para garantirmos que estamos em paz connosco e com quem nos rodeia. Pimba. Só aqui, primeira lição para os adultos, que tantos problemas de comunicação têm (eu incluída!).

Depois, damos por "nós", adultos, a construir-lhes e a fazê-las acreditar num mundo que não existe. Inventamos teorias, desculpas e mentirinhas, para que elas não se assustem, não se magoem, não façam perguntas inconvenientes, etc.

Cada vez que me vejo a ir por esse caminho, faço inversão de marcha e falo preto no branco.

Acho que as crianças devem saber como funciona o mundo que as rodeia, com a informação certa q.b. para a idade. Sem desmanchar toda a fantasia mas sem criar ideias fantasiosas que nos saiam caras mais tarde. E nisto posso incluir, literalmente, o mundo. Grande redundância. Mas não sei dizê-lo de outra forma.

Exemplos vários: 

- A educadora vai embora. Ok. Explicamos que vai ter outras oportunidades, outro trabalho, mudar de cidade, etc. Como pode acontecer com qualquer um de nós. Sem dramas e sem mentiras que nos façam ouvir o «quando é que volta?». Esta questão aconteceu lá em casa, e depois da explicação a pergunta foi: «E vai voltar?» e a resposta foi simple «Não, filha. Vais ter uma nova, que te vai ensinar coisas novas e trazer experiências diferentes.» Assunto arrumado com sucesso e prova superada!

- De onde saem os bebés? Pela barriga, como foi o caso lá em casa, ou pelo «bibi», apelido trazido da escola pela criança, que adotámos sem stress. Viu a cicatriz, percebeu no seu corpo que tem um buraquinho para o xixi e outro, para saírem bebés, ou sangue, quando for crescida e não houver bebés. 

- Esta pergunta levou a outra: como é que aparecem os bebés? Claaaaro que as pernas tremeram e veio um suorzinho. Como explicar a uma miúda de 4 anos sem mentir e sem demasiada informação? «Bom, quando dois adultos gostam muito um do outro namoram, e quando estão a namorar, bem juntinhos, o homem dá uma espécie de semente à mulher, e daí pode nascer um bebé». Prova superada com MUITO SUCESSO porque não veio a pergunta seguinte: «Como?». Mas sabe que a semente vem pela pilinha, e entre na «barriga» da mulher. Informação q.b. para não achar que se compram, que se encomenda, que é uma semente que vai pelo umbigo, etc.

- E passando do nascimento à morte, a clarificação do conceito e o facto de ser a única certeza que temos na vida. Não há filme da Disney que não tenha mortes ou órfãos. E lá em casa o consumo da Disney é quase diário e é muito incentivado. Então veio a pergunta: «Oh mãe, quando morremos ficamos a dormir e passado muito tempo acordamos?». Não filha, quando morremos, é como se ficássemos a dormir para sempre. Mas o nosso coração pára de bater e deixamos de respirar. Nunca mais vivemos. Deixamos de existir e de sermos vistos. OK. A miúda lá andou uns dias a pedir que não morrêssemos, e a contar os «velhinhos» todos que conhecia com medo que algum desaparecesse. Depois de repetir não sei quantos filmes, entendeu que nem sempre morriam só os velhinhos. Às vezes dávamos por ela a ver notícias com muita atenção e perguntava quem tinha morrido, como e porquê. "Do nada", digo eu, veio o interesse pelas mortes da família. Os bisavós que não conheceu, e outros que tais. São conversa quase diária. Quer saber mais e mais sobre eles. Sabe que uns estão no cemitério - sítio onde vamos em breve para ela ver o que é como se organiza, etc. - e outros foram cremados e estão guardados em sítios especiais. Perguntou se renasciam, porque acreditava nisso. Que podiam renascer em plantas, animais ou outras pessoas. Nem eu nem o pai acreditamos nisso. Disse-lhe que se ela acreditava nisso, talvez fosse possível. Mas que eu apenas acreditava na renovação da vida. E que depois de um período difícil, triste, depois de uma perda, a vida renovava-se de alguma forma e trazia coisas boas. Ficou a olhar para mim pouco convencida. E eu fiquei a olhar para ela pouco convencida, também. Porque ela gera-se na primavera seguinte à morte do meu avô Alberto, e nasce tão generosa e palhaça quanto ele. Se isto é renovação ou renascimento, eu já não sei. 

- Por fim, a polémica do fim-de-semana sobre as crianças só «falarem brasileiro». Desde que a miúda nasceu que a nossa família tem uma ligação direta ao Brasil. Eu sempre fui fascinada, e desde que o meu irmão foi viver para lá que se há forma de matar saudades dele e daquele país é ouvindo música brasileiro, lendo poetas brasileiros, consumindo muito Brasil, até na alimentação. Então, quando ela começa a comunicar, pouco depois, vem o primo nascido lá, que vive lá e que, por muito português que o pai seja, é 200% brasileiro. Vem o Luccas Neto, vem a Maria Clara, vem o canal da Nastya traduzido, etc. etc. etc. Vem o funk que ela gosta de ouvir, Anitta e afins. Não a protejo de nada. Ela vem influenciada da escola ou da irmã. De alguma forma eles chegam a nomes e músicas que nem sabíamos que existiam. A seguir também ouve Caetano Veloso e dança Gilberto Gil. E canta Melim, Ivete e outros. Sabe que geladeira é frigorífico, mamadeira é biberão, banheiro é casa-de-banho. Sabe que a comida é gostosa e que uma coisa pode ser «muito legal!». Sabe que brinca quando fala com sotaque, e pica o pai quando, propositadamente, usa essas palavras de forma fluente. O consumo desses canais e músicas só lhe trouxe mais vocabulário e alegria, fantasia, imaginação. A mediação entre o que eles consomem e o dia-a-dia é fundamental e não fundamentalista. Não entendo sequer como é notícia a questão das crianças «só falarem brasileiro». Porque: 1. brasileiro é um cidadão nascido no Brasil; 2. a notícia deveria ser esta falta de comunicação e de mediação de quem cria e educa as crianças. Isso sim, deveria ser a notícia.

Bom, a carta vai longa, e todos perdemos mais tempo a ler posts rápidos nas redes do que longas linhas de texto. Ainda por cima, sinto que a escrevi do alto de um pedestal, e peço desculpa aos mais sensíveis por isso. Mas isto vale o que vale, e às vezes oiço tantos pais a queixarem-se que não sabem como lidar, como fazer, como responder, como explicar, que me pergunto que mundo criaram para as suas crianças. Porque eu só conheço este mundo, aquele em que eu vivo com a minha filha. 

Se não querem estupidificar as crianças, nem fazê-las passar por situações embaraçosas, não se embaracem também, e comuniquem. 

E por fim, deixo aqui um louvor a quem acompanha a minha filha na escola, um especial à Lili, educadora, que lhes responde a tudo, que lhes mostra como as coisas funciona e as torna crianças atentas, informadas e perspicazes. 

Até daqui a uns meses, eventualmente. 

✌❤


quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Semana Mundial do Aleitamento Materno - memorando às mães

 Vi pelas redes que esta é a semana mundial do aleitamento materno, assunto que muito me diz.

Multiplicam-se as publicações pró aleitamento e muitas fundamentalistas. 

Venho só partilhar a minha experiência, de há 5 anos atrás:

A Rita nasceu e, ainda na maternidade, perdeu muito peso. 

Ela nasceu e veio logo à mama. Ela esteve sempre em livre demanda e nunca chorou por ter fome ou cólicas.



A mãe da Rita nunca pensou muito no assunto amamentação. Abandonou o curso de preparação para o parto, onde tudo eram rosas, fadinhas a cintilar e pirosidades transcendentes, e preveniu-se para a maternidade com purelan e uma bomba de leite emprestada. E assim foi. A Rita nasceu e durante 3 dias mamou o que quis e quando quis. Entre as dores da cesariana, cateteres, algália, e tudo a acontecer, nunca me preocupei.

Eis senão quando, ao 3.º dia, a Rita é pesada e perdeu demasiado peso. A pediatra sugere que a amamentação seja complementada com suplemento. Chorei baba e ranho umas 8h seguidas. Senti-me a falhar, insuficiente para a minha filha, etc. 

Não desisti da mama. Foram mamilos de silicone, purelan, bepanthene, discos de hidrogel, calor, gelo, extração com a bomba, extração manual. 

Ao quinto dia, ela tinha ganho peso e fomos as duas para casa.

Já em casa, continuámos o esquema. Eu não tinha um momento sem dores. Eu não conseguia tomar banho em condições porque a água me doía. Eu dava de mamar, várias vezes, a morder uma toalha nos primeiros minutos até me adaptar à dor. Não conseguia tirar leite com a máquina, e a extração manual, que não me doía, era totalmente desprezada pelos profissionais de saúde, por não ajudar a produzir mais leite.

Na primeira semana em casa, devo ter ido umas 3x ao Centro de Saúde. Para infelicidade minha, a minha enfermeira de família não estava nesse período, e levei com uma enfermeira cheia de certezas sobre ter de amamentar e aguentar as dores - trazendo de novo a culpa e a impotência. Nem sei se a senhora é mãe. 



Felizmente, ao fim de 3 semana em casa o leite secou de uma mamada para o outro. E eu não sei se chorava de alegria se de tristeza, se de alívio ou de impotência. Só sei que chorava.

E sei que a partir daí me senti muito melhor, muito mais tranquila e feliz. 



As dores acabaram, as mamas desincharam e a minha filha, várias vezes, se tinha mais sono ou estava mais agitada, procurava conforto na mama ainda que sem leite. Porque este era o conforto dela desde que nasceu: chuchar na mama, em vez de mamar.

A minha filha tem 4 anos e nunca passou fome, nunca chorou com dores ou cólicas, é saudável, feliz e inteligente.

Foi alimentada por toda a família e amigos, e eu fiz as pazes comigo mesma em muito poucas horas.

Porque o bem-estar da minha filha, numa fase tão inicial, dependia muito do meu, que estava absolutamente comprometido com o processo de amamentação.

Entretanto, durante muito tempo, disse que se tivesse mais filhos já iria de biberão para a maternidade.

Hoje já não sou assim tão fundamentalista, mas sei que se tiver mais algum filho não entrarei em guerra com a amamentação nem com o mundo, porque as mamas e o bem-estar são meus e de mais ninguém.

Posto isto, mães que possam estar a passar por este processo, aproveitem-no até onde for saudável para todos! Porque se tudo for uma dor de cabeça (ou de mamas, que é bem pior!) não vale a pena.

E antes que venham as fundamentalistas todas, e os fundamentalistas, ainda mais chatos e desprezíveis porque nem por este processo podem passar mas acham que podem opinar sobre as mamas das outras, privilegiem sempre o leite materno, à mama ou no biberão, que ainda por cima as latas são caras para chuchu! 

Um beijo e um queijo,

MS

terça-feira, 29 de junho de 2021

Concluindo o processo da doação...

 ...nem tudo são rosas, Senhor!

E, no dia em que fui chamada para iniciar a estimulação ovárica, com todos os valores das análises certíssimos, vimos na ecografia que a minha atividade ovárica folicular era moderada, pelo que não valia a pena iniciar o processo de estimulação para retirar muito poucos ovócitos que estariam prontos a reagir a esse tratamento. 

Então, a minha história ficou por aqui... no que toca a ser dadora de gâmetas.

MAS... se alguém me está a ler e tem entre 18 e 33 anos, é saudável e gostaria de ser dadora, contactem o Serviço de Medicina Reprodutiva, deixo os links e contactos aqui.

Há muitas famílias a precisar de dadoras, e no Serviço Público há muito poucas doações... 

Eu confio no SNS, e a equipa que me seguiu foi para lá de 5 estrelas! 





Banco Público de Gâmetas – SNS 

Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra

Morada: Avenida Afonso Romão, 3000-602 Coimbra
Telefone: 964 554 924
E-mail: bancogametas@chuc.min-saude.pt
Serviço/Unidade Hospitalar: Centro de PMA/Oncofertilidade – Hospital Pediátrico – CHUC
Horário de colheita: período da manhã (sempre a combinar com os dadores); os dadores masculinos tem um horário um pouco mais alargado, até ao inicio da tarde.
Nome do Coordenador do Centro de Colheita: Prof.ª Doutora Ana Teresa Almeida Santos

Quem pode Doar

Para poder doar óvulos existe um conjunto de pré-requisitos que as candidatas deverão cumprir:

  • Ter entre 18 e 33 anos
  • Não ter doenças de transmissão sexual
  • Não ser portador de doenças hereditárias  

 

Processo

A doação de óvulos decorre sob total anonimato, existindo a garantia de que todas as informações facultadas serão geridas segundo estritos critérios de confidencialidade.

O processo de doação de óvulos é feito de acordo com 3 passos:

Passo 1 – Consulta de Ginecologia prévia, avaliação de fertilidade, análises sanguíneas e entrevista (Psicologia)
Passo 2 – Estimulação Hormonal
Passo 3 – Doação (colheita de óvulos)

 

Reembolso das Despesas Efetuadas

A Lei Portuguesa determina que a doação de óvulos seja um processo voluntário, de carácter benévolo, em que as dadoras são ressarcidas pelas despesas efetuadas ou prejuízos direta e imediatamente resultantes das suas dádivas num valor máximo de 877,62€ (calculado de acordo com o dobro do Valor do Indexante de Apoios Sociais em vigor) após a dádiva, nos termos fixados pelo Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, de acordo com o previsto no n.º 3 do Despacho 3192/2017, publicado no Diário da República n.º 75, 2.ª Série, de 17 de abril de 2017.


As dadoras ficam ainda isentas do pagamento de taxas moderadores no âmbito do SNS.

Circular Normativa nº3/2017, estabelece as regras referentes ao registo administrativo e à aplicação da dispensa e isenção de taxas moderadoras para dadores de gâmetas


sexta-feira, 12 de março de 2021

Sobre a doação de gâmetas

Depois de receber várias perguntas, venho aqui responder na generalidade àquilo que sei e lançar, de novo, o apelo, a quem puder ser dador/dadora para que inicie o processo! 😉

Há gente tão pertinho de nós a precisar... 

Então cá vai:

1) O tipo sanguíneo importa?

O tipo sanguíneo é uma das primeiras perguntas que fazem. Penso que qualquer tipo sanguíneo pode ser dador, neste caso a informação importa para o mapa genético de quem puder vir a utilizar os nossos ovócitos.

2) As crianças que nascerem da doação podem vir a «reclamar» direitos à dadora?

NÃO.

A criança que nascer de uma doação pode, ao atingir a maioridade, ter acesso aos dados da dadora, mas não há qualquer relação entre as partes. Isto é, a dadora não é tida como «mãe biológica», esse conceito, inclusivamente, é banido do processo de fertilização. Logo, nem a criança pode «reclamar» nem a dadora se pode achar mãe de. 

Isto é um ponto fulcral para o processo avançar.

Num tom mais pessoal, isto não me faz qualquer confusão. Não pensaria, nunca, vir a dizer que A  ou B não são filhos da mãe que os gerou mas sim meus. 

Mudando totalmente o assunto, faz-me muito mais confusão pensar nas barrigas de aluguer. Por não acreditar que uma mulher, sã mentalmente, consiga gerar uma vida dentro de si como se se tratasse de uma prestação de serviços.

3) Que riscos corre uma dadora?

Bom, não se faz nada nesta vida em que não se corram riscos, certo?

Tomáramos nós que, de cada vez que temos que nos sujeitar a uma medicação, consulta, exame ou cirurgia fôssemos observadas da mesma forma que somos observadas ao longo deste processo.

Se nos primeiros exames houver algum risco, a dadora fica logo ciente dele ou pode inclusivamente ver o seu processo terminar ali. 

Os riscos, correndo tudo bem, são mínimos. Não há propriamente complicações associadas, nem impedimentos, nem nada. 

4) Dói?

Olhem filhas, não sei. Neste momento só tirei sangue, fiz citologia e ecografia. Pelo que, como saberão, nada disto dói.

Avançando para a doação, a aspiração dos ovócitos é feita com uma pequena sedação, como aquela que dão quando se faz uma endoscopia ou colonoscopia. 

5) A doação é remunerada?

Não. A doação não é remunerada.

No entanto, se o processo for concluído, poucos dias após a doação, o estado paga uma recompensa à dadora que serve para cobrir os custos associados ao processo, como as faltas ao trabalho para as consultas e exames e o dia da doação.

E agora me despeço, voltando ao assunto quando o processo avançar!

Bom fim-de-semana (e que venha a segunda-feira e os putos na escola!!!) 🌷


quinta-feira, 11 de março de 2021

Vou deixar-vos o meu testemunho até à parte do processo em que estou

Vamos falar de coisas sérias. E que podem fazer a diferença na vida de alguém.

Há 1 ano, ao ver uma campanha que pedia dadores para o Banco Público de Gâmetas, acompanhada por uma entrevista de uma das responsáveis desse banco, e por começar a conhecer vários casos próximos cujo recurso a um banco de gâmetas poderia ser a única forma de serem mães/pais, decidi pesquisar sobre o que isso implicava.


A informação está toda na internet. Mas o que interessa rapidamente é: se forem mulheres, entre os 18 e os 33 anos, e se forem saudáveis, poderão ser potenciais dadoras.

No caso dos homens, a única informação que tenho é que podem ser dadores até aos 40 anos. Mas tudo o resto não sei como se processa.

Mas voltemos às mulheres.

Depois de ler sobre o assunto, mandei um email, e o processo, pensando que há toda uma pandemia pelo meio, tem corrido de forma célere.

Vou deixar-vos o meu testemunho até à parte do processo em que estou. Mas todas as dúvidas que tenham, sugiro mesmo que contactem diretamente o Banco Público da vossa área de residência.

Então, uma mulher, entre os 18 e os 33, pode ser dadora de ovócitos, e pode doar 4x ao longo da vida, desde que haja intervalos de 3 meses entre cada doação.

Se não houvesse a pandemia, ter-me-ia deslocado ao hospital para a entrevista com a psicóloga, com a ginecologista, e para fazer todas as análises e exames. No meu caso, como houve a pandemia, a entrevista com a psicóloga e a primeira consulta com a ginecologista foram online. 

No dia a seguir à consulta com a ginecologista, estava no serviço de Medicina da Reprodução, nos CHUC, para fazer os exames ginecológicos, ecografia e recolha de amostras de sangue para análise.


Agora, aguardo 1 mês pelo resultado de uma parte dos exames, e 2 meses pelo resultado das análises genéticas.

Entretanto, já assinei o termo de consentimento, que pode ser revogado até à data da doação.

Parte prática à parte, aquilo que me motivou a iniciar o processo foi saber que, à partida, era uma potencial dadora, e que fazia aquilo que podia para ajudar outros casais a realizarem o seu maior sonho. Além disso, sem nenhuma próxima gravidez prevista/planeada, nada me impedia de o fazer.

Se os exames estiverem todos bem, conforme previsto, o procedimento é simples:

- 1ª menstruação após resultados OK, telefonar para o serviço de Medicina da Reprodução;

- 3 idas lá para iniciar a estimulação do ovário, através de injeções diárias;

- procedimento de extração de ovócitos, que é feito com sedação, por via endovaginal. Este procedimento prevê que a dadora possa estar umas 2h no hospital, e depois segue a sua vida.

Neste link podem encontrar mais informações:

https://www.chuc.min-saude.pt/paginas/informacoes/ao-cidadao-utente/banco-publico-de-gametas.php

E fica aqui o vídeo da campanha:

(1) Banco Público de Gâmetas | Tutorial Feminino - YouTube

Eu optei, e optarei, sempre que possível, pelo SNS, embora possam ser dadores em bancos privados.

No entanto, os custos dos tratamentos, para os casais, são muito avultados, enquanto que o SNS dá essa resposta de forma muito mais acessível, mas tem muito poucos dadores.

Para terminar, quero deixar aqui uma nota de muito orgulho e respeito pela equipa que me acolheu desde o primeiro dia, com um carinho e humanidade quase raros de encontrar, hoje em dia.

É uma equipa de excelência, mesmo quando a enfermeira te aparece com 11 tubos para encher de sangue 😜

Se o processo avançar, voltarei ao estaminé para vos contar como foi. Agora, resta-me esperar ✌


AAAAHHHHH!! E uma questão muito importante, pelo menos para mim - fiquei a saber que, apesar das dores menstruais que tenho e afins, não tenho qualquer doença, quisto, variz, etc. Apesar de isso não melhorar o panorama de dores, tranquiliza-me. Muitas vezes este é um assunto passado para 2.º plano, seja por nós mesmas, seja por quem nos acompanha. E este processo dá-nos acesso a uma série de informação sobre o nosso corpo que de outra forma não teríamos.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Quando for grande quero ir ao Brasil

 Dormi muito mal hoje.

Um sono especialmente agitado desde a última vez que acordei e olhei para o relógio, pouco passava das 05h.

Estava no Rio. Estava na cidade que eu amo. Mas com uma ansiedade doida. Tinha 1 semana e sentia que cada minuto parada eram dias em que perdia um sítio para revisitar ou conhecer.

Cá em casa todos gostamos do Brasil, especialmente a mais nova, sem nunca lá ter ido.

O meu hóme reclama reclama reclama, da única vez que fomos os dois, disse-me que não voltaria, porque a viagem era muito longa. Mas foram uma férias de mar, de história, de cidade e natureza, maravilhosas.

Eu posso ir já no próximo voo, seja lá para que estado for. 

E a mais nova consome muito conteúdo brasileiro, e se houver samba na área solta a anca e os pezinhos e lá vai ela.

Mas sinto-me ansiosa há mais de 2h, farta de me mexer e a sonhar com coisas boas e más que aconteciam no Rio. Uma delas, não se faz a ninguém: estávamos alojados na orla de Copacabana e havia obras no calçadão, de tal maneira que não se conseguia ir à praia! PÂ-NI-CO.

Bom, na verdade, já nem sei porque comecei a escrever isto. Sei que assim que puder e que a Rita crescer, voltarei ao Rio, a SP e conhecerei outras partes do Brasil. E levá-la-ei comigo sempre que puder.

E para matar a saudade... Fotos de há 9 anos, no RJ, SP e RS e na Bahia há 7 anos.

Ipanema, RJ

Floresta da Tijuca, RJ

Paquetá, RJ

Selaron, RJ

Central do Brasil, RJ

Pedra do Arpoador, RJ

Mirante do Leblon, RJ

Calçadão de Copacabana, RJ

Vista do Pão de Açúcar sobre a Urca, RJ

Pão de Açúcar, RJ

Copacabana, RJ


Viaduto da Paz, SP

Banespão, SP

Av. P

Avenida Paulista, SP

Ibirapuera, SP

Mercado Municipal, SP

Santos, SP

Museu da Independência, SP

Pelotas, RS

Rio Grande, RS

Maior Praia do Mundo, RS

Maior Praia do Mundo, RS

Algures depois de uma viagem de loucos por estradas de terra batida, RS

Ondina, BA

Forte da Barra, BA


Uma qualquer praia numa qualquer ilha na Bahia...


Igreja de N. S. do Bonfim, BA




Típica foto de turista mete nojo, BA


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Estou aqui.

Hoje venho dizer-vos que somos todos uma merda.

Há dias assim. Que não dão para muito mais.

Ainda não decidi se somos todos uma merda, ou se somos todos a mesma merda.

Vivemos uma situação inédita. Impensável. Inacreditável. Sabem aqueles filmes mesmo maus, que ao fim de 2 minutos já desistimos, porque o mundo está a acabar e isso é impensável?

Pois é. Há dias em que não é.

Há dias em que presenciamos a chegada de novas vidas, as perdas das que não chegaram a nascer, as complicações que surgem.

Há dias em que tememos que o amigo ou vizinho tenha um cancro sem diagnóstico atempado, ou que nos dê um fanico e tenhamos de ir parar a um hospital, ou que alguém parta sem que nos possamos despedir.

Estes tempos têm sido duros, e não heróis com capa que nos safem.

Ter um familiar institucionalizado, nesta altura, implica obrigá-lo a viver com a solidão, com a ausência de filhos e netos, a viver numa tristeza sem fim e com contacto muito limitado.

Ter um familiar hospitalizado, obriga a deixá-lo sem visitas, sem sabermos e vermos como realmente está, e a deixar tudo entregue nas mãos que quem cuida.

Ter um familiar no estrangeiro, implica, neste momento, mais de 1 ano sem estarmos juntos, sem nos tocarmos, sem nos cheirarmos, sem vermos os pequenos a crescer. 

Ter alguém de risco em casa implica ter medo, todos os dias, quando temos de sair porta fora.

Os dias em que o telefone não toca para ter trabalho são dias sem fim.

Os dias em que não para de chover mostram-nos que a luz ainda está longe.

Os miúdos começam a acusar cansaço. O sono de todos é perturbado.

E quando isto acabar, começa a segunda pandemia. A económica e social. A segunda pandemia das doenças por tratar e dos diagnósticos por fazer. A segunda pandemia da saúde mental.

E quantas vagas por aí virão...

Hoje, não estou triste.

Hoje, não chorei.

Hoje, estou bem, enérgica, e com capacidade de ver o sol.

E com capacidade para abraçar os meus, virtualmente, e dizer, mais uma vez, que estou aqui.

Ninguém está sozinho. 

Estamos todos no mesmo barco.

E eu estou aqui.

Não se sintam sozinhos. Procurem companhia. Façam um brinde à vida. Encontrem o sol, e a esperança ao amanhecer. 🌞



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Confinamento 4832156841238431

 08h49. Estou de pé há pouco mais de 1h.

Acordar tem sido assim, ao sabor dos dias. Sem despertador, sem vontade, sem energia.

Questiono-me em que semana de confinamento vamos. Rapidamente me localizo. Vamos nas primeiras, e todos os dias me surpreendo por termos aguentado tanto tempo no 1.º confinamento. 


Os dias têm um sabor de montanha-russa, uma sensação agridoce. E olhem, nunca andei de montanha russa e só provei o molho agridoce uma vez. 

Lá fora troveja, chove a potes, está frio. A luz no céu não chega para iluminar o dia.

Em casa, só de luz acesa.

A casa está de pantanas. Felizmente, acho que já aprendi a relativizar. Vai-se limpando, vai-se arrumando, mas é um ciclo. Não tem um fim à vista nem um resultado perfeito.

Os dias correm. Às vezes, de repente, é hora de almoço. Mas a tarde demora imenso a passar.

Outra vezes, é isto. Ainda só passou 1h30 desde que me levantei e quem me dera que já fossem 17h.

Depois, tudo passa. Depois, num mesmo dia, cozinho, faço desporto, saio a pé, brinco, arrumo os quartos, perco-me nas redes, o relógio corre, o relógio pára, uma série nova, oiço música. Há tempo para tudo, desde que haja energia para tudo.

Sem dúvida que este confinamento tem sido muito mais desafiante.

Enquanto a mente grita e pede um pouco de sossego, de tempo a sós, de não ter horários nem obrigações, depois derreto-me para uma miúda de 4 anos que não fez UMA BIRRA desde que isto começou. Que não nos levou aos limites. Que é compreensiva com tudo, que ajuda a cozinhar, a arrumar a loiça, a pôr a mesa, a arrumar a roupa seca, a pôr roupa a lavar, que por iniciativa própria arruma o quarto e faz a cama. Que me deixa totalmente imersa de amor, cada dia mais.

E que me mostra o que é a tolerância e a empatia.

É absolutamente irresistível e uma força da natureza.

E, depois, para ajudar à (in)congruência dos dias, não quero um confinamento curto. Vibro com a descida do número de casos e de mortos, acredito no bom senso das pessoas em não facilitar, e peço que o governo tenha coragem de manter estas medidas até fim de março.

E agora, pensando nisso, não quero nem pensar nas questões económicas. Mas entre conforto financeiro e vidas, prefiro salvar vidas.

Nota-se muito a loucura dos dias que estamos a viver?


Ah! E uma questão muito importante.

Nunca havia sido tão bom e tão importante para mim passar os dias com conversas de treta nos grupos de família e amigos. Ou a partilhar parvoíces nas redes e a trocar mensagens e comentários com pessoas que não são do dia-a-dia mas que nos aquecem o coração.

Se se sentirem sozinhos, deprimidos, se acharem que o dia não tem várias cores, mandem mensagem! Telefonem! Não estão sozinhos! Acho que estamos todos no mesmo barco. E na mesma maré... 

Se precisarem, estou aqui 💚



quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Um dia escrevo sobre as mudanças no corpo.

 Em agosto de 2017, publicava esta foto e achava que sabia o que tinha de saber sobre as transformações no corpo de uma mulher.

7 meses depois de ser mãe, tinha o meu peso antes da gravidez, que já era 2/3 kgs acima do ideal, e lutava para chegar a um número que me era confortável, embora tudo estivesse, ainda, fora do sítio.



Na parede da minha casa de banho, a lápis, por cima da balança, tenho registos quase diários desse tempo.

Em 3 ou 4 dias conseguia variar 2kgs, mediante o que comia e bebia. Era um sufoco não me fixar num peso. E estar sempre à espera de um número da balança.

Estava longe de imaginar que vinha por aí muito mais.

Se o tempo em que estamos em casa com os bebés é cansativo e absorvente, ao mesmo tempo é um momento nosso, praticamente a 2, grande parte do dia, o que, mal ou bem, nos permite ir fazendo alguma coisa por nós.

Com as novas rotinas, as alterações na alimentação, o regresso ao trabalho e a culpa de não ir logo buscar a criança quando se sai, e de não ter muito tempo para nós porque somos mães, ou outra culpa qualquer, ou desculpa, que vamos inventando, nos últimos 3 anos engordei 10kg.

Gastei centenas de euros em dietas. Leram bem, centenas. 

Em dietas que nem chegavam a começar, em dietas que tentava 1 semana e desistia, em dietas que jamais seriam para mim. 

Em agosto de 2019, cansada de estar como estava, fiz uma série de análises para despistar possíveis alterações hormonais que também dificultassem este processo, glicemia, colesterol, etc. E consultei uma endocrinologista, que me passou uma dieta totalmente normal, com 30min de caminha por dia. 

Em 2 meses foram 7kgs embora e acumulei muita fominha. Com os horários, o inverno a chegar e a época do Natal, que cá em casa junta aniversários e afins, foi tudo ao ar. Em 15 dias tinha os 7kgs que me custaram 2 meses a perder.

Bom, não vale a pena dizer que a quarentena veio só estragar, ainda mais, tudo. 

A questão é que, em algum momento, houve um ponto de viragem.

Não sei quando, não sei como. Sei que houve um momento de viragem. 

A busca do corpo perfeito desapareceu. Chegou a aceitação do meu corpo. No tempo certo. E chegou a vontade de mudar, por mim, os meus hábitos, e não a minha aparência. E, acreditem, são coisas totalmente diferentes.

Nunca tive grandes problemas de autoestima. Sempre me achei uma miúda gira, e se não gostava de me ver ao espelho todos os dias, fazia por gostar, ou sabia que felizmente eram mais os dias em que gostava do que os que não gostava.

Os kgs a mais trouxeram outros desafios. Um guarda-roupa que me stressava porque não me servia. E porque ia guardando para o dia em que... Esqueçam. Dei tudo. Passei a abrir o armário e a ter só tudo aquilo que podia vestir, e acabou o stress da roupa.

A minha filha, um dia, no banho, disse-me que quando fosse grande, queria ter uma barriga grande como a minha.

Caiu-me a ficha. Não pela aparência, repito. Mas porque a barriga grande significava, no meu caso, desleixo. Comia o que queria, dentro e fora de horas, não tinha qualquer contenção, chegava a perder a elegância e a delicadeza, coisas que prezo em mim e nos outros, e a atacar comida como se amanhã não fosse um novo dia.

Então, a minha filha até poderia ter uma barriga grande, mas não por estes motivos.

Juntando as peças todas do puzzle, a minha vida começou a mudar.

No dia 22 de dezembro, talvez a data mais improvável para tal, comecei a treinar. Quase diariamente. Posso dizer-vos que de 22 a 31 não fui treinar a 25, 27 e 31. E posso dizer que fui com muita vontade, com muita disponibilidade e sem o mínimo esforço.

No dia 23 tive dores de me contorcer e não conseguir dormir. O meu corpo estava morto há anos. E o reativar dele foi doloroso.

Não treino todos os dias a pensar em vestir um 36 e um S (até porque posso dizer-vos que desde que engravidei que a maior parte das calças continua a ser 38, como já era anteriormente), posso até passar a vestir o 40 ou o 42.

Treino todos os dias a pensar em mim, no meu bem-estar. É 1 hora do dia minha, só minha. É 1 hora do dia em que ninguém depende de mim, precisa de mim, chama por mim. É 1 hora do dia em que limpo a cabeça para o resto do dia, e que me revitaliza.

Não vou à balança. Por curiosidade, irei lá daqui a 1 mês talvez.

A alimentação também está diferente. Cortei praticamente os açúcares. Praticamente porque no Natal e no Ano Novo não estive com problemas em comer isto e aquilo. Não fazia sentido.

Saio diariamente ainda de noite para ir treinar. Nos últimos dias saio com graus negativos e chego do ginásio ainda com graus negativos.

Não me custa.

Não tenho tanto sono como tinha.

Não tenho tantas variações de humor como tinha.

Estou bem, com energia, com confiança, e feliz.

E, no meio de tudo isto, aprendi uma coisa, que tanta gente me dizia mas que não tinha entendido: só conseguimos mudar por nós. Não conseguimos mudar pelo companheiro, pelos filhos, por isto ou por aquilo. A mudança tem de ser feita por mim. A pensar em mim.

E tem sido uma viagem deliciosa.

Feliz Ano Novo a todxs, e que 2021 nos traga esperança 💚