terça-feira, 23 de maio de 2017

Tu cá tu lá, bardamerda para ti...

...e para todos os que não são adeptos do Sporting.
Ou não.

Migos e migas, senhoras e senhores, vamos ver se nos entendemos.

Tenho 25 anos e não tenho alzheimer. Pelo que, felizmente, lembro-me bem de quem andou comigo na escola. Dos professores. Dos funcionários. Enfim.

Tenho emprego, carro, casa, família, uma conta no banco, contas mensais, e todas essas vicissitudes.

Por isso, expliquem-me por que razão decidem tratar-me por tu.

Fico perdida. Pior, fico f*dida!

Mesmo que não tivesse nada do que escrevi. Por que é que me tratariam por tu?

Conhecem-me?
Mesmo que fosse figura pública. É ridículo as pessoas tratarem figuras públicas por tu, só porque acham que as conhecem da TV.

Acho que, para resolver o problema, só tenho duas hipóteses:

1. começo a tratar a pessoa por tu também (afinal devemos conhecer-nos e eu não me lembro);
2. pergunto-lhe, tratando-a por você, onde nos conhecemos.

Problema maior do que este: ultrapassar aquilo que, para mim, é faltar ao respeito, e fazer mesmo uma dessas opções.

Caraças, pá.

4 meses de Rita + 1

23 de maio é uma data que não passava de ser o dia a seguir ao aniversário do meu homem. Ou o 5º dia de são receber para muitos funcionários públicos.
Mas deixou de o ser.
A Rita faz hoje 4 meses.
E foi precisamente há um ano, talvez até por esta hora, que soube que estava grávida.

Lembro-me bem dessa altura.
Andava muito enjoada. Atraso grande na menstruação.
Mas não liguei muito. Andava cheia de trabalho, com os sonos trocados, o dia e a noite fundiam-se e passava horas fechada em salas de espetáculo. A casa andava às costas e comíamos onde dava. Em escolas, restaurantes assim, restaurantes assado...

O C fez anos, e, finalmente, não havia trabalho nesse dia.
Ele decidiu, e eu adorei, convidar família para almoçar - esquecendo-se que era o seu aniversário, apenas porque tínhamos um cabrito ótimo para cozinhar.

Eu tinha tudo pensado - festa surpresa com os amigos. Éramos uns 30 cá em casa. Amigos de hoje, amigos de sempre, família.

Depois de almoço conseguimos que ele fosse mostrar um dos cafés cá do sítio à família, enquanto preparámos tudo!

Os doces e salgados que a família tinha trazido estavam escondidos no sótão.
As pessoas iam chegando e trazendo mais comida.

Havia de tudo o que eu gostava.
Mas estava com um enjoo de morte.
Mas se eu não comesse... Mais perguntas viriam.

Ele já andava desconfiado.
Então, pensei que era melhor comer tudo o que queria naquele dia, porque no dia seguinte ia fazer um teste de gravidez. E se fosse positivo... viriam aí restrições!

A festa lá se passou, e eu só queria que a comida desaparecesse da minha frente, que já não aguentava mais.
Tinha ido ao médico há uns dias, fazer análises para saber se estava tudo ok.

Segunda de manhã fui à farmácia.
-Se faz favor, queria o teste de gravidez mais barato que tiver.
-Ai menina, há um ótimo, um bocadinho mais caro, mas com resultados exatos.
-Não vale a pena, é só para despistar.

Xixi na pipeta. Não se passaram 10 segundos até aparecerem 2 tracinhos.
"Está estragado!" - pensei eu.

Antes de qualquer festejo, voltei à farmácia.
-Afinal quero o melhor que aí tiver.

Trouxe-o. Esperei os 10 minutos mais longos da minha vida.
E, no ecrã, "4-5 semanas".

Pronto. Estava grávida.

A partir daí, tudo melhorou.
Foram 9 meses fantásticos, felizmente.
E estes 4 trouxeram a melhor mudança possível à minha vida.

Nem todas as histórias são bonitas.
Mas, até agora, temos a sorte de ter uma bonita história.
E de a irmos alimentando todos os dias.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Problemas graves da maternidade #3

Bem, isto se calhar deveria chamar-se "Problemas graves da maternidade em centros comerciais".
Mas pronto.

Vamos lá?

Ir às compras.
Ir às compras para casa com um bebé.
Ir às compras para casa com um bebé no seu carrinho não nos permite levar um carrinho para as compras.
Ir às compras com um bebé no ovo dentro do carrinho de compras deixa-nos espaço para trazer menos coisas do que caberiam num cesto.
Ir às compras com um bebé no ovo dentro do carrinho de compras que depois chora, vem para o colo, enchemos o carrinho e o ovo com coisas e depois temos de levar as compras e o bebé até ao nosso carro, não funciona.
Ir às compras para a casa com um bebé é um bom exercício.

Claro que poderíamos ir em várias vezes. Tipo: "Agora consigo levar o peixe e os legumes. Vou pagar, por no carro e voltar a entrar para comprar os detergentes. Depois venho buscar a mercearia. Volto a pagar. Vou às bebidas. E volto a pagar."
Só que isto não acontece. Além disso, achariam que éramos doidas, maníacas, que teríamos algum TOC, ou que éramos só parvas.

Então, vamos lá: há carrinhos com assentos para bebés.
Mas NÃO HÁ carrinhos desses em todo o lado.
Aliás, na verdade, estou a lembrar de dois sítios onde vi mais do que um carrinho desses disponível.

Fui com a miúda às compras - porque estamos em casa e assim escuso de me enfiar num hipermercado ao fim do dia ou ao fim-de-semana - e foi um filme só.
Levei o marsúpio. A gaja adormeceu no caminho. Plano do marsúpio de lado.
Procurei carros com assentos para bebés. Ups, não havia.
Plano C - vamos ver como corre.
Foi uma ginástica sem fim. E vou ter de lá voltar para ir buscar o que falta.

Senhores dos hipermercados, pensem lá nisso.

Nota - escrevo no feminino porque estou a pensar na mãe que sou e nas várias mães com que me cruzo naquilo a que chamo "hora do bebé". Claro que os pais também podem sofrer o mesmo. Sem fundamentalismos!

terça-feira, 9 de maio de 2017

A todas as Brigittes

Desde que o Macron ganhou destaque que a imprensa, no seu melhor, foi buscar a sua relação de 20 anos e as suas características.

Macron e Brigitte têm 25 anos de diferença. Só que, a diferença, é que ele não é 25 anos mais velho do que ela. Ele tem 39 e ela 64. Ela era professor e ele aluno. Menor. Esperaram pelos seus 18 anos, ela divorciou-se e ele pediu-a em casamento.
E então? Pergunto eu.
Mexe com o sono de alguém?

Eu e o meu homem temos 24 anos de diferença. Eu, 25, ele 48 - 49 daqui a duas semanas. Conhecemo-nos desde os meus 6 anos, talvez. Encontrámo-nos, no amor, há quase 3 anos. O filho dele é mais velho do que eu. Mas ele tem irmãos mais novos do que o filho.
E então? Pergunto eu.
Se faz comichão, põe disoderme.

O Rodrigo e o Leo, as minhas baleias brasileiras, são homossexuais e, felizmente, fazem a sua vida normal. Não precisam de dizer que o são porque nós também não andamos a espalhar pelo mundo que somos hétero. São extravagantes e lindos demais. Amam perdidamente e vivem a vida de uma forma linda.
E então? Pergunto eu.
Não gosta? Não tem que gostar.

A Rebecca converteu-se ao islamismo porque estudou tanto que gostou. Ou só porque quis. Sem estar apaixonada por qualquer muçulmano. Defende os direitos humanos e é das ciências sociais.
E então? Pergunto eu.
Incomoda-te? Não saias de casa.

A Cat é moçambicana. Mas é a moçambicana mais branca que conheço. Dá até vontade de gozar. É uma mulher africana maravilhosa. E uma gorda linda. Gosta do seu corpo, veste o que quer e quando quer. Usa bikini e é uma mulher fantástica.
E então? Pergunto eu.
Não quer ver? Olha para o lado.

Na minha família paterna, há 7 tios, e, entre muito casa e descasa, já se cruzaram 8 nacionalidades. Somos muitos e quase nunca nos juntamos. É praticamente impossível estarmos todos. Partilhamos o nome, um carinho especial, e algumas memórias pontuais.
E então? Pergunto eu.
Somos disfuncionais? Qual é o seu horário de funcionamento?

Brigittes e Macrons, neste mundo, há muitos.
Mas garanto-vos que há coisas muito mais interessantes e importantes para dedicarmos tempo do que a essas diferenças.

Sou feliz só por preguiça. A infelicidade dá uma trabalheira pior que doença: é preciso entrar e sair dela, afastar os que nos querem consolar, aceitar pêsames por uma porção da alma que nem chegou a falecer.

«Mar Me Quer», de Mia Couto


segunda-feira, 8 de maio de 2017

Convenções que não matam mas...

moem.
E há dias em que moem mesmo.

Domingo foi dia da mãe e, pelos vistos, era suposto que me sentisse especial.
Para mim foi apenas domingo.
Nem foi o dia do cortejo, nem foi o dia da mãe, nem foi o aniversário de 13 pessoas entre família e conhecidos.
Não.
Domingo foi o primeiro dia, em muito tempo, em que estive com o meu homem em casa todo o dia, sem precisarmos de ir aqui ou ali, de pegar no carro, de vestir qualquer coisa assim ou assado, de responder ao telemóvel ou ao computador.
Foi o primeiro dia, em muitas semanas, em que ele pode aproveitar o sofá e eu a sua companhia. E em que estivemos entregues, literalmente, à bicharada - entre crianças e animais.
Foi a primeira vez que ele cozinhou daquela forma bonita como só ele cozinha, desde há umas semanas.
Foi aquele dia em que a Rita adormeceu no início do almoço e pudemos estar à mesa horas, com família e amigos.

No domingo foi um dia especial. Não por ser dia da mãe.
Mas por ser, finalmente, um domingo dos nossos.

Ainda assim, obviamente, a minha mãe sabe que todos os dias são dia da mãe para nós. Para mim e para ela. E que não é preciso um dia para o celebrar.

O dia da mãe vale pelo pretexto de lhe poder dar um mimo. Mas nem isso neste domingo.

O nosso dia da mãe há-de ser um dia destes. Ou todos os dias da nossa vida.

Mi madre y sus muchachos, em 1992.

Problemas graves da maternidade #2

Bem, voltemos aos Centros Comerciais e às suas casas-de-banho. (Adoro conversas de merda.)

Qual é a ideia de, nos fraldários, ter ambientadores que dão náuseas até a quem não tem olfato?

É porque o cocó dos bebés cheira mal?
Asseguro-vos que não cheira tão mal como o nosso. E olhem que nunca convivi com tanto cocó na minha vida como nos últimos 3 meses.

É para abrirmos a porta e parecer que estamos no corredor dos detergentes do Jumbo?

Ou é para irmos ao balcão de informação perguntar se é Brise ou Ambipur e a seguir ligarmos para a DECO a denunciar que tal produto nos seca as mucosas nasais?

Pois é. A Rita não suporta esses cheiros. Se os vossos bebés suportam, ótimo. Mas eu sou aquela mãezinha que tem de mudar a fralda, a menos que seja cocó, nos bancos dos corredores ou no carro.

Porque se querem ver a Rita bruta... é levá-la ao fraldário.

A única vantagem disto, é quando as "bruxas" se aproximam dela cheias de Poison, Opium e afins e ela chora que se farta, porque cheiros fortes não são com ela.


sexta-feira, 5 de maio de 2017

Problemas graves da maternidade #1

Então, minhas boas pessoas, pensem lá comigo:

Eu vou ao shopping com a Rita. Sozinha. É ótimo.
Estamos numa fase chata do tempo. Se está frio, não podemos passear. Se está calor, ela transpira que nem uma doida. Se chove, não dá para andar na rua.
Então o que nos sobra? Centros comerciais.

Agora pergunto eu?

1. Mesmo com aqueles lugares destinados a famílias com crianças de colo à porta do shopping, como é que eu, sozinha, vou conseguir empurrar/puxar a porta e empurrar o carrinho ao mesmo tempo?
Fórum Coimbra, está na altura de pensarem nisso!
Dolce Vita, se houvesse destes lugares já não era mau...

Mas eu ainda sou uma pessoa que tem reservas de gordura para gastar, e alguma flexibilidade herdada de alguns anos de dança. Faço uma ginástica e pronto.
Mas como faz uma pessoa em cadeira de rodas? Tem 5 lugares à porta para estacionar, mas se não for um caso daqueles em que não pode sair sozinho, não pode conduzir, não pode colocar-se na cadeira, etc., como abre a porta? Já para não dizer que a altura das maçanetas é para quem anda em duas pernas...

2. Bom, mas continuando o nosso périplo pelo shopping, mamãe fica com a bexiga cheia, ou dá-lhe uma vontade daquelas.
Como é? Deixamos a criança à porta da casa de banho? Pedimos a alguém que olhe por ela, sem pensarmos no Rui Pedro e na Maddie? Aguentamos? Vamos só ali ao Continente comprar fraldas para a incontinência e da próxima já vimos prevenidas?

A-m-i-g-o-s, a solução, até agora, tem sido uma: casa de banho dos deficientes.
Porém, no outro dia, no NorteShopping, estava eu descansadinha e a Rita não estava a gostar de estar ali. Começou a chorar. Eu a mijar. E alguém, do outro lado da porta, a bater como se não houvesse amanhã.

Gente, mesmo que quem estivesse do outro lado fosse alguém com (mais) legitimidade para usar a casa-da-banho - não podia ser um outro deficiente lá dentro? É certo que a Rita tinha a goela bem aberta, e não estava contida no volume, mas...

Conclusão: quando nos vemos nestas situações é que percebemos como é difícil ter algum tipo de mobilidade, neste caso, condicionada.

Senhores dos centros comerciais, pensem lá nisso!