quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Um dia escrevo sobre as mudanças no corpo.

 Em agosto de 2017, publicava esta foto e achava que sabia o que tinha de saber sobre as transformações no corpo de uma mulher.

7 meses depois de ser mãe, tinha o meu peso antes da gravidez, que já era 2/3 kgs acima do ideal, e lutava para chegar a um número que me era confortável, embora tudo estivesse, ainda, fora do sítio.



Na parede da minha casa de banho, a lápis, por cima da balança, tenho registos quase diários desse tempo.

Em 3 ou 4 dias conseguia variar 2kgs, mediante o que comia e bebia. Era um sufoco não me fixar num peso. E estar sempre à espera de um número da balança.

Estava longe de imaginar que vinha por aí muito mais.

Se o tempo em que estamos em casa com os bebés é cansativo e absorvente, ao mesmo tempo é um momento nosso, praticamente a 2, grande parte do dia, o que, mal ou bem, nos permite ir fazendo alguma coisa por nós.

Com as novas rotinas, as alterações na alimentação, o regresso ao trabalho e a culpa de não ir logo buscar a criança quando se sai, e de não ter muito tempo para nós porque somos mães, ou outra culpa qualquer, ou desculpa, que vamos inventando, nos últimos 3 anos engordei 10kg.

Gastei centenas de euros em dietas. Leram bem, centenas. 

Em dietas que nem chegavam a começar, em dietas que tentava 1 semana e desistia, em dietas que jamais seriam para mim. 

Em agosto de 2019, cansada de estar como estava, fiz uma série de análises para despistar possíveis alterações hormonais que também dificultassem este processo, glicemia, colesterol, etc. E consultei uma endocrinologista, que me passou uma dieta totalmente normal, com 30min de caminha por dia. 

Em 2 meses foram 7kgs embora e acumulei muita fominha. Com os horários, o inverno a chegar e a época do Natal, que cá em casa junta aniversários e afins, foi tudo ao ar. Em 15 dias tinha os 7kgs que me custaram 2 meses a perder.

Bom, não vale a pena dizer que a quarentena veio só estragar, ainda mais, tudo. 

A questão é que, em algum momento, houve um ponto de viragem.

Não sei quando, não sei como. Sei que houve um momento de viragem. 

A busca do corpo perfeito desapareceu. Chegou a aceitação do meu corpo. No tempo certo. E chegou a vontade de mudar, por mim, os meus hábitos, e não a minha aparência. E, acreditem, são coisas totalmente diferentes.

Nunca tive grandes problemas de autoestima. Sempre me achei uma miúda gira, e se não gostava de me ver ao espelho todos os dias, fazia por gostar, ou sabia que felizmente eram mais os dias em que gostava do que os que não gostava.

Os kgs a mais trouxeram outros desafios. Um guarda-roupa que me stressava porque não me servia. E porque ia guardando para o dia em que... Esqueçam. Dei tudo. Passei a abrir o armário e a ter só tudo aquilo que podia vestir, e acabou o stress da roupa.

A minha filha, um dia, no banho, disse-me que quando fosse grande, queria ter uma barriga grande como a minha.

Caiu-me a ficha. Não pela aparência, repito. Mas porque a barriga grande significava, no meu caso, desleixo. Comia o que queria, dentro e fora de horas, não tinha qualquer contenção, chegava a perder a elegância e a delicadeza, coisas que prezo em mim e nos outros, e a atacar comida como se amanhã não fosse um novo dia.

Então, a minha filha até poderia ter uma barriga grande, mas não por estes motivos.

Juntando as peças todas do puzzle, a minha vida começou a mudar.

No dia 22 de dezembro, talvez a data mais improvável para tal, comecei a treinar. Quase diariamente. Posso dizer-vos que de 22 a 31 não fui treinar a 25, 27 e 31. E posso dizer que fui com muita vontade, com muita disponibilidade e sem o mínimo esforço.

No dia 23 tive dores de me contorcer e não conseguir dormir. O meu corpo estava morto há anos. E o reativar dele foi doloroso.

Não treino todos os dias a pensar em vestir um 36 e um S (até porque posso dizer-vos que desde que engravidei que a maior parte das calças continua a ser 38, como já era anteriormente), posso até passar a vestir o 40 ou o 42.

Treino todos os dias a pensar em mim, no meu bem-estar. É 1 hora do dia minha, só minha. É 1 hora do dia em que ninguém depende de mim, precisa de mim, chama por mim. É 1 hora do dia em que limpo a cabeça para o resto do dia, e que me revitaliza.

Não vou à balança. Por curiosidade, irei lá daqui a 1 mês talvez.

A alimentação também está diferente. Cortei praticamente os açúcares. Praticamente porque no Natal e no Ano Novo não estive com problemas em comer isto e aquilo. Não fazia sentido.

Saio diariamente ainda de noite para ir treinar. Nos últimos dias saio com graus negativos e chego do ginásio ainda com graus negativos.

Não me custa.

Não tenho tanto sono como tinha.

Não tenho tantas variações de humor como tinha.

Estou bem, com energia, com confiança, e feliz.

E, no meio de tudo isto, aprendi uma coisa, que tanta gente me dizia mas que não tinha entendido: só conseguimos mudar por nós. Não conseguimos mudar pelo companheiro, pelos filhos, por isto ou por aquilo. A mudança tem de ser feita por mim. A pensar em mim.

E tem sido uma viagem deliciosa.

Feliz Ano Novo a todxs, e que 2021 nos traga esperança 💚