sábado, 21 de março de 2020

coronamood dia #9

8h10 e estou ao computador.
É a primeira vez nestes dias que acordo com energia e de bem com a vida.
Foi a primeira vez, nesta semana, em que consegui dormir uma noite sem insónias.
As insónias chegam de mansinho e quando alguma coisa está mesmo desregulada ou fora de controlo.
Se eu achava que estava tudo bem, apesar de já não aguentar as miúdas aos gritos, e a correr, e a saltar, e a lidar bem melhor com isto do que os adultos… e ao mesmo tempo ia buscar a paciência a cascos de rolha e tentava levar os dias na maior, a meio da noite acordava, sem sono, e ali ficava 2 ou 3h.
O que é certo é que cá em casa ninguém sabe o que nos espera. Estamos os dois sem qualquer atividade profissional, a tratar dos processos de Lay Off.
2020 era o ano dos grandes planos - as obras cá em casa iam arrancar em fevereiro, mas nessa semana choveu e adiámos para… não sabemos quando! E depois? Casa à venda e casa nova em vista. E mudanças a nível profissional. E férias já marcadas e agendadas. E tudo. Tudo feito com a antecedência e com os planos que sempre gostaríamos de ter feito.
Ontem obriguei-me a acertar ponteiros e alimentação. Tem sido porcaria por todo o lado e o meu corpo ressente-se quase instantaneamente.
Hoje é o 9.º dia em casa e ainda não parece o fim do mundo. É chata a chuva e o frio, as miúdas não podem sair, estão confinadas às brincadeiras cá dentro, e começam a stressar e a passar demasiado tempo em frente aos ecrãs.
Esperemos que, com a chegada da primavera, venha de novo o sol e os dias mais quentes. Daqui a uma semana muda a hora, tão desejada cá por casa!
Continuamos todos vivos, sãos e mais gordos!
E parece que a partir de hoje se seguem mais 15 dias… Venham eles! Vamos dar cabo do bicho!
Seguimos juntos...

segunda-feira, 16 de março de 2020

coronamood o c*ralho!

Tenho levado estes dias mais ao menos ao de leve...
Estamos os 4 em casa, o que é raro, com a certeza de que o homem não sai para trabalhar, o que é ainda mais raro e que nos sabe muito bem.
Com isto, as miúdas, entre guerras, vão aprendendo a partilhar e a cooperar, a casa vai ganhando o cheiro de quem é habitada e não o cheiro de quem vem dormir. Acompanhamos as notícias 2x por dia, elas veem filmes, brincam na rua, etc. Desinfetamos a entrada e as maçanetas diariamente. O pai já foi ao supermercado e quando vem já há todo um ritual de desinfeção.
Tudo muito chato, é certo.
Depois vemos as notícias e, na minha inocência, andava há 3 dias a ver as percentagens de aumento de casos. Feliz, porque a percentagem apresentada vem descendo, até ao dia em que chegaria a zero.
Neste momento, decido fazer uma publicação com esse pensamento, porque não é alarmista, não é pessimista, está ótimo. E uma amiga, daquelas que não vemos meses e meses a fio, mas que é como se nos tivéssemos visto ontem, que poderia bem ser da família e da casa, não fosse a distância e os horários, mandou-me uma mensagem em privado. É enfermeira num grande hospital e as coisas estão pretas. Não vou entrar em pormenores, porque todos sabemos que há relatos antagónicos. E, se nos «mentem» ao disponibilizar os números de infetados, é porque não há meios para fazer testes a tantos casos suspeitos.
O que me trouxe aqui ao estaminé não foi apenas a gravidade desta situação. Porque vejo gente a entrar em pânico e super alarmada e prefiro pensar que se todos fizermos o que está ao nosso alcance estamos a dar o nosso contributo para travar esta pandemia.
Mas, enquanto falava com ela, que nem sei se estava a trabalhar, mas que estava claramente exausta e stressada, e a dar o litro para poder ajudar o máximo possível de utentes, não esquecendo que as outras doenças e urgências não desapareceram, pensei que tinha acabado de fazer 3 publicações parvas no Instagram, tinha planos de deitar a mais nova e ir ver as novas atualizações do Big Corona d'A Pipoca Mais Doce, e a seguir seguia para ouvir A Caravana da Rita Ferro Alvim, e, quiçá, pegar no Ensaio Sobre a Cegueira, que comecei a ler há uns bons tempos e nunca mais lhe peguei.
E, enquanto falava com ela, eu estava, como estou a escrever este texto, em casa, junto à piscina, a apanhar sol e a beber o meu café de papo para o ar.
E só aí me bateu o papel patético que muitos temos feito. Batemos palmas, cantamos, tudo certo (cá em casa não fazemos nada, no campo não temos vizinhos, e às 22h as miúdas estão a roncar, ou a caminho disso). Mas eles não param. E ao fim do dia voltam para casa. Sem saberem se estão infetados. Para abraçar os filhos. Para descansar um pouco. Sem férias, sem planos, sem saber quando isto vai acabar. E quando chegam ao trabalho, sem máscaras, sem condições, e com solicitações para todo o lado dão o litro. E não pensam 2x antes de ajudar quem mais precisa.
Continuaremos a cantar à janela, a fazer descrições diárias destes dias encafuados em casa, a fazer macacadas para passar o tempo e a aprender a lidar com esta situação.
Mas a partir de hoje, mais do que nunca, com o coração naqueles que são profissionais de saúde e que não podem baixar os braços. Hoje, este desabafo é para ti, Istrelinha, e para todos os teus colegas.
Obrigada por todo o vosso esforço (dedicação e glória…?! Já que somos do Sporting, pode ser assim!)! E seguimos juntos, fazendo cada um o seu papel, para travar esta pandemia 👊❤

domingo, 15 de março de 2020

coronamood dia #2

E pronto… Habemus frio e chuva nesta quarentena!
Vantagens de estar em casa? Ir lá abaixo buscar a lenha, com o frio a cortar a cara, com a luz do dia…
LOOOL, a sério. Vantagens zero. Se ontem as miúdas andaram o dia na rua, hoje foi casa-casa-casa.
A vantagem foi que a mais nova achava que não tinha sono, e eu cheguei a temer que o tédio destes dias lhe fosse roubar a necessidade da sesta. Mas olhem, que bom que não tinha, que só dormir 3h de sesta…! Imaginem se tivesse...
Entretanto, por cá vamos indo, com um gin tónico para animar a malta, as miúdas na cozinha a fazer pizza para o jantar e depois a não comerem porque não gostam de pizza, uma a dizer que quer outra comida e a outra também, uma a dizer que quer sumo e a outra também, uma a dizer que tem cocó e a outra também, uma a dizer que a podemos enfiar num armário até isto acabar e a outra… não, mas é pena 😈 muahahahahahahah!
Agora a sério, hoje o dia foi ótimo. Super tranquilo… Foram só 57 discussões e ontem foram 79, só arrumei 2x a cozinha e ontem arrumei 3x, só precisei de 5 minutos trancada na casa de banho e ontem foram 15... Sempre a melhorar!
O único pensamento sério que me vem à cabeça nestes dias é: como é que vou calçar a Rita depois de uma quarentena descalça em casa? E escusam de vir todos os técnicos-entendidos-em-pedagogia-pediatria-e-podologia porque cá em casa andamos todos descalços o ano inteiro! O problema vai ser mesmo calçá-la de novo 😬
Fora toda esta parvoíce, 2 «regras» novas cá em casa:
- notícias ao almoço;
- notícias ao jantar.
Zero notícias durante o dia, que só aumentam a ansiedade e instalam o pânico.
E muito respeito e solidariedade por todos os profissionais que não podem ficar em casa, como nós, e que se arriscam diariamente para dar resposta a todos: sejam os profissionais de saúde e auxiliares, sejam as forças de segurança, sejam os funcionários dos hipermercados e lojas abertas, sejam os motoristas, os farmacêuticos, e os próprios membros do governo que, mais do agrado de uns do que de outros, tem estado no terreno, sem hesitar, a dar a cara e a fazer o seu papel.
E muito odiozinho de estimação para quem inventou o Messenger, e as partilhas de tudo, desde o rolo de papel higiénico aos áudios, vídeos, orações, músicas, grupos, depoimentos, teorias da treta e o c*ralhinho que já ninguém merece.
Acho que a primeira resolução desta quarentena vai ser acabar com o Facebook. Já faltou mais ✌
Seguimos juntos 👊

sábado, 14 de março de 2020

coronamood dia #1

Pensei várias vezes se deveria vir para aqui escrever. Mas a pessoa tem que despejar as coisas para algum lado, ainda que possa não apetecer a ninguém ler.
Ontem, por iniciativa familiar, foi o 1.º dia de isolamento cá em casa.
Na verdade, foi o 1.º dia para mim e para a Rita… e que dia!
Inicialmente foi fácil falarmos com ela:
- há muita gente doente na rua;
- nós não queremos ficar doentes;
- vamos passar os próximos dias em casa, sem ir ao café ou ao parque;
- vamos lavar várias vezes e muito bem as mãos;
- vamos brincar, aprender, apanhar sol, dormir a sesta, pintar, etc.;
- vamos ver os avós e os tios pelo telemóvel, porque também não queremos que eles fiquem doentes;
- quando isto acabar, vamos fazer uma festa, juntar a família e celebrar.
Mas… para isso acontecer, temos de ficar em casa!
A coisa nas primeiras horas funcionou, mas chegámos a um ponto em que nem ir à casa-de-banho sozinha conseguia ir…
Diria que ontem foi o dia do luto. Um stress constante, uma falta de energia atroz, uma mega dor de cabeça e vontade de adormecer e acordar no fim da quarentena! Ora isto aliado a 2 crianças em casa, é, basicamente, impossível.
Então, hoje, dia #1 dos quatro em caso começou a tourada!
Alterámos rotinas do dia-a-dia para que estes dias não sejam tão complicados.
Por exemplo, todos os dias tomávamos banho de manhã, os 4. Hoje, elas já acordaram de banho tomado, o que as ajuda a relaxar ao fim do dia e fechar um ciclo.
Também passaram o dia de pijama, coisa que pensei não fazer… Mas elas adoraram! Pijama, descalças e rua com elas: dar comida e muito mimo aos cães, que têm pouco mimo diariamente porque no corre-corre não há espaço para estarmos com eles; preparar a nossa mesa e cadeiras na rua, limpar e preparar o almoço para comer lá fora; andar de bicicleta no pátio, dentro dos possíveis, deslocar brinquedos para a rua ou para espaços menos comuns de brincadeira cá em casa; envolve-las na dinâmica da cozinha; contar histórias e ver filmes novos.
A verdade é que mediar duas miúdas, de 3 e 8 anos, e com feitios antagónicos, é difícil. Mas é mais difícil ter apenas 1 criança para entreter.
Ainda agora, enquanto escrevo, estão as duas há quase 1h a brincar sem se chatearem e sem chatear ninguém! Oremos, irmãos!
Vamos ver como correrá daqui para a frente, step by step. Pensar em longevidade é assustador, mas pensar no hoje tem sido um desafio e tanto.
Entretanto, esta semana fizemos algumas compras «não vá o diabo tecê-las» na terça-feira, sem exageros, mas sem noção que iríamos ficar os 4 em casa 15 dias… Conclusão: elas em casa passam a vida a querer comer e temo que na segunda ou terça tenha de ir ao supermercado. E confesso que isso não me deixa nada confortável! Mas vamos lá, apenas 1 de nós, de máscara, luvas e com todos os cuidados.
Espero que todos levem a sério este período. Cuidar de si e daqueles que os rodeiam passa apenas por ficar em casa e cumprir algumas regras que nos são sugeridas.
Espero que, daqui a 15 dias, todo o panorama que se avizinha seja o melhor.
Seguimos juntos!