quinta-feira, 23 de março de 2017

O pai no parto

Hoje, logo pela manhã, cruzei-me com esta publicação do P3.
Desde miúda que brincava aos partos, sonhava ser obstetra, era vidrada em coisas de bebé.
Depois das várias voltas que a vida levou, já grávida, surpreendi-me ao pensar e verbalizar que desejava muito que a bebé nascesse de cesariana. A episiotomia fazia-me uma impressão dos diabos. Provocava-me contrações e arrepios. Não queria nem pensar nisso. Nisso e na hipótese de não ir a tempo de levar anestesia.
Andei a culpar-me por desejar a cesariana, mas verbalizava-o porque sabia que muitas outras mães pensavam no mesmo.

Às 32 semanas, a Rita não tinha dado a volta. Estava sentadinha, a curtir o aconchego da barriga.
Às 38 semanas tudo se mantinha. E às 39. E às 40.
Por isso, precisamente há 2 meses, pela manhãzinha, estava com 40 semanas + 1 dia, e entrava na maternidade para a Rita nascer. Com dia e hora marcada.

Quando soube que ela não tinha virado, e depois de ler tudo e mais alguma coisa, fiquei triste. Para o nosso bem já só desejava o parto normal. Imaginava as situações mais insólitas para as águas rebentarem e andava sempre à procura de descobrir o que seria uma contração. Afinal, se eu nunca tinha tido, como saberia o que era?
Mas, à medida que o tempo ia passando, sabia que a cesariana era inevitável. A previsão era de que ela fosse um bebé muito grande. E eu pequenita. Sem grande espaço nas ancas. E ela sentada.

Mentalizei-me e problema resolvido. O pai podia assistir à cesariana, e o que eu mais desejava era que o nascimento fosse um momento nosso. Estava tudo certo.
Às 39 semanas fui à urgência, já com alguns sinais de parto. Passou-me pela cabeça garantir com a obstetra que o pai iria assistir à cesariana, como estava previsto na lei.
Ela respondeu de imediato, com um sorriso: "-Não."

Saí de lá doida. Chateada com tudo. De lágrimas nos olhos e a telefonar ao meu homem, a dizer que ia rever a legislação, que não podia ser assim, "não" e acabou.
Do outro lado só me lembro de ouvir: "Calma. Não vale a pena estares assim. São minutos e eu vou lá estar, do outro lado da porta."

Assim foi. E tudo correu tão bem quanto poderia esperar. A equipa que estava no bloco era fantástica, e as auxiliares fizeram muito bem a ponte entre mim e o pai.
Passada menos de uma semana depois do parto, dizia que se fosse sempre assim já estava pronta para outra!
Mas, havendo uma outra, o meu primeiro pensamento foi garantir que, caso acontecesse, o pai iria estar presente. Custasse o que custasse. Fosse normal ou cesariana.

Ao ler isto, espero que a legislação não ande para trás. E que em pouco tempo, todos os hospitais públicos tenham condições para que o pai possa acompanhar a mãe.

Durante todo o processo, o pai é sempre posto à margem pelo sistema de saúde. É preciso mudar isto.

2 comentários:

  1. Adorei :) Completamente a favor dos pais poderem assistir a tudo.

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  2. Obrigado por partilhares os teus momentos! :D

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