Hoje venho dizer-vos que somos todos uma merda.
Há dias assim. Que não dão para muito mais.
Ainda não decidi se somos todos uma merda, ou se somos todos a mesma merda.
Vivemos uma situação inédita. Impensável. Inacreditável. Sabem aqueles filmes mesmo maus, que ao fim de 2 minutos já desistimos, porque o mundo está a acabar e isso é impensável?
Pois é. Há dias em que não é.
Há dias em que presenciamos a chegada de novas vidas, as perdas das que não chegaram a nascer, as complicações que surgem.
Há dias em que tememos que o amigo ou vizinho tenha um cancro sem diagnóstico atempado, ou que nos dê um fanico e tenhamos de ir parar a um hospital, ou que alguém parta sem que nos possamos despedir.
Estes tempos têm sido duros, e não heróis com capa que nos safem.
Ter um familiar institucionalizado, nesta altura, implica obrigá-lo a viver com a solidão, com a ausência de filhos e netos, a viver numa tristeza sem fim e com contacto muito limitado.
Ter um familiar hospitalizado, obriga a deixá-lo sem visitas, sem sabermos e vermos como realmente está, e a deixar tudo entregue nas mãos que quem cuida.
Ter um familiar no estrangeiro, implica, neste momento, mais de 1 ano sem estarmos juntos, sem nos tocarmos, sem nos cheirarmos, sem vermos os pequenos a crescer.
Ter alguém de risco em casa implica ter medo, todos os dias, quando temos de sair porta fora.
Os dias em que o telefone não toca para ter trabalho são dias sem fim.
Os dias em que não para de chover mostram-nos que a luz ainda está longe.
Os miúdos começam a acusar cansaço. O sono de todos é perturbado.
E quando isto acabar, começa a segunda pandemia. A económica e social. A segunda pandemia das doenças por tratar e dos diagnósticos por fazer. A segunda pandemia da saúde mental.
E quantas vagas por aí virão...
Hoje, não estou triste.
Hoje, não chorei.
Hoje, estou bem, enérgica, e com capacidade de ver o sol.
E com capacidade para abraçar os meus, virtualmente, e dizer, mais uma vez, que estou aqui.
Ninguém está sozinho.
Estamos todos no mesmo barco.
E eu estou aqui.
Não se sintam sozinhos. Procurem companhia. Façam um brinde à vida. Encontrem o sol, e a esperança ao amanhecer. 🌞
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