quarta-feira, 27 de abril de 2022

Capítulo seguinte

 Não ia deixar a história acabar aqui.

Mas a vodafone sem serviço e as festividades e trabalho redobrado contribuíram com 0,5% do seu IRS para esta causa.


Em junho de 2021, estava eu naquela posição confortável, deitadinha de perna aberta no SEMER do CHUC com uma coisa enfiada até aos pulmões para tentarem ver os meus ovários num útero que mais parece um S (muito descritivo...?), e o médico só me diz:

- Já é mãe?

- Já! 

- Ainda bem. Porque tem muito poucos ovócitos. Não podemos fazer a estimulação para a doação e nem vai a tempo de ter mais filhos. Eventualmente deve procurar um médico, porque como isto está, na sua idade, não é normal, pode até entrar numa menopausa precoce.

Fiquei ali só a tentar decifrar o que tinha ouvido.

Agradeci muito, fui pedir uma justificação para levar para o trabalho, e saí. 

Por umas horas, chorei copiosamente, perdida, sem saber para onde me virar e com medo do «não vai a tempo de ter mais filhos.» 

Alguns conhecidos com quem partilhei a história diziam-me «então, mas ias doar óvulos, qual o problema de não teres mais filhos?». Ora, a primeira questão é que doar óvulos não impede ninguém de voltar a ser mãe. E o processo de doação, com a pandemia, demorou mais de 1 ano até à primeira consulta, e não estava nos planos voltar a ser mãe, pelo menos, por enquanto.

Nesse tempo em que pensava ter ficado sem chão, burrinha que só eu, tive o melhor tapete da minha vida, que me amparou, como faz diariamente. E a minha mãezinha, forte como o aço. E uma amiga que na hora me indicou a melhor ginecologista do mundo, que no dia seguinte me recebia no seu consultório. 

Bom, então agora, vamos esquecer tudo o que o médico disse... 

Importava fazer uma análise que nunca tinha feito, e cujo valor, na verdade, era bastante baixo para o expectável: hormona anti-mulleriana, que é uma avaliação da reserva ovárica.

Antes de continuar, num próximo capítulo, notas para todas as mulheres:

N1 - sabia, desde que tinha sido mãe, que algo não andava bem. Apesar de ter uma menstruação regular, as dores eram demasiadas e ninguém detetava endometriose ou qualquer outra questão. Foi preciso chegar aqui para começar a descobrir algumas possibilidades e formas de encontrar conforto sem tomar a pílula ou qualquer substituto hormonal. (Não tomo a pílula há mais de 8 anos por opção.)

N2 - procurem, as vezes que forem precisas, um/a ginecologista que gostem, que vos oiça e que vos transmita confiança na sua prática e nas suas convenções como profissional. É essencial para o nosso bem-estar, e eu perdi 5 anos de bem-estar mensal à custa de não ter quem me guiasse.

N3 - se receberem algum diagnóstico assim «fatal», procurem uma 2ª e até uma 3ª opinião. Nem tudo é o que parece.

E agora, não percam o próximo episódio, porque nós também não... 


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